Rio de Janeiro, 18 de agosto de 1987
O maior poeta brasileiro morreu aos 84 anos de insuficiência respiratória. Sua morte não surpreendeu seus amigos mais íntimos, que o viram muito abatido depois da morte de sua filha, doze dias antes. O câncer ósseo levou Maria Julieta e tirou do poeta a vontade de viver.

Carlos Drummond de Andrade, o escritor mais amado e respeitado de seu tempo em seu país, o poeta que um
dia escreveu: “E agora José? / A festa acabou,/ A luz apagou, O povo sumiu, / A noite esfriou”.
Um homem desiludido com o mundo. Injustamente rigoroso no julgamento da obra que produziu. Sentia descrença e desilusão. Lamentava que as novas gerações não tenham mais os estímulos intelectuais que havia até trinta ou quarenta anos passados.
“Os tempos estão ruins. É um fenômeno universal, uma espécie de deterioração dos conceitos e do sentimento estético. Em qualquer país do mundo é a mesma porcaria. É a massificação dos meios de comunicação, tudo ficou igual no mundo inteiro”

Ao ser o considerado o maior poeta do mundo, dizia que foi por julgamento, que a maioria das pessoas que o consideravam não o haviam lido e sim escutado falar.
“Não me julguei nem julgo, e digo mais: não sei qual é o maior poeta brasileiro de hoje nem de ontem. Para mim, não há maiores poetas. Há poetas. E cada poeta é diferente dos outros.”

Carlos Drummond de Andrade
Em uma entrevista publicada dezessete dias antes de dar adeus ao mundo, Carlos Drummond de Andrade confessava que tinha um único e prosaico medo: o de escorregar, levar uma queda boba e quebrar o fêmur.
“Sou uma pessoa terrivelmente corajosa, porque não espero nada de coisa nenhuma. Não tenho religião, não tenho partido político. Vivo em paz com meu critério moral. Vivo em paz com minha consciência”.

Sua obra narra a trajetória de um homem, de uma geração e de um país. Um homem que saiu do interior de Minas Gerais, da cidade de Itabira do Mato Dentro para a cidade grande. Envolveu-se nos conflitos de seu tempo e se quedava metafísico e retirado quando as coisas do mundo o aborreciam. Sua primeira publicação foi em 1918, com um poema em prosa “Onda” no jornalzinho Maio.

Seus versos transmitem a emoção que sentia no momento em que escrevia, momento que poderia ser um parodoxo do que havia escrito antes. Tratam de temas metafísicos a fatos jornalísticos. Ele foi diametralmente oposto e talvez complementar. O cronista e o poeta. Foi politicamente comprometido, mas nunca aderiu a um partido. Certos poemas são profundamente religiosos, mas não acreditava em Deus. Gostava de ser amado mas abominava a celebridade.

Durante 15 anos, todas as terças, quintas e Sábado, Carlos Drummond de Andrade publicou suas crônicas no Caderno B. De sua estreia, em 2 de outubro de 1969, falando sobre o leilão que liquidava a Panair do Brasil, até o ‘ciao’ de despedida em 29 de setembro de 1984, quando faz um balanço de sua atividade na imprensa, foram 780 semanas da história do país e do poeta refletidas com agudeza e lirismo em mais de 2 mil e 300 crônicas. Nos deixando entre outras lembranças um poema, Rotativo do acontecimento...

"...E é por admitir esta noção de velho, consciente e alegremente, que ele hoje se despede da crônica, sem se despedir do gosto de manejar a palavra escrita, sob outras modalidades, pois escrever é a sua doença vital, já agora sem periodicidade e com suave preguiça. Cede espaço aos mais novos e vai cultiva o seu jardim, pelo menos imaginário.
Aos leitores, gratidão, essa palavra tudo.”

(trechos de CIAO de Carlos Drummond de Andrade)