31 de janeiro de 2006

Será mais uma... ????

Encontrei um sítio muito legal, Mosca na Sopa, que postou uma notícia que deve ser motivo de investigação por todos:

"Telefonia

Enviado pelo atento Mateus, nosso pagodeiro-hacker da banda Puro Acaso..
Pessoal, repasso o "resumo-da-ópera" sobre a telefonia fixa. Favor não chorar...

1. COBRANÇA ATUAL POR PULSO: - 1 pulso (4 minutos) = R$ 0,12 (em média), ou seja, 3 centavos por minuto.

2. NOVA MODALIDADE DE COBRANÇA POR MINUTO: - 1 minuto = R$ 0,10 (em média), ou seja, 10 centavos o minuto!

3. CONCLUSÃO: - Aumento médio de 233% (só triplicou). - E o novo contrato valerá até 2025!!!

4. RESPONSÁVEIS: - Lulinha soft-pré-candidato-2006 e seu ministro Hélio Costa

5. NOSSO PAPEL - Divulgar e protestar... Cuidado, esta brincadeira vai ficar mais cara.."


Vale a pena visitar o endereço, tem muita coisa interessante escrita por um profissional, Roberto Andrade - jornalista.
www.moscanasopa.blogger.com.br/

Em reality show, estranhos disputariam que casal engravida mais rápido

Rio - Você seria capaz de ter um filho com um estranho, e correndo contra o tempo para fazê-lo antes de um casal rival, tudo transmitido pela TV? Na Inglaterra, muitos teriam. A promessa de fama e o prêmio de 100 mil libras (cerca de 220 mil reais) atraiu cerca de 200 candidatos, que responderam ao anúncio do "Let's have a baby" ("Vamos ter um filho"). Só depois de entrevistados, eles souberam que o reality não passava de uma pesquisa para um programa da rede BBC, que tinha como objetivo avaliar os limites éticos dos reality shows.
A idéia surgiu do desafio de inventar um reality show de extremo mau-gosto e moralmente incorreto, atribuido a uma produtora falsa, e conferir a reação do público e do mercado. Os participantes seriam desconhecidos entre si e teriam que conseguir a gravidez em dois meses. A cada semana, os menos atraentes seriam mandados para o paredão e um seria eliminado. Dois casais finalistas disputariam qual engravidaria mais rápido e faturar o prêmio. Entre os candidatos, havia um gay assumido. A história do falso reality show foi ao ar no programa "Mischief", do canal BBC 3.
"Não imaginávamos chegar tão longe com tanto pouco esforço", disse Helen Stage, produtora e diretora do programa Mischief, responsável pela brincadeira. Numa feira de TV em Cannes, França, houve uma festa para divulgar o falso reality show. Para surpresa da produção, houve emissoras de vários países interessados em comprar os direitos. "Como produtora, estava muito interessada em quão baixo a indústria seria capaz de chegar para atrair espectadores. A resposta é 'muito baixo'.
A produção fez uma pesquisa com espectadores e descobriu que muitos, apesar de considerarem o reality moralmente questionável, não deixaram de assisti-lo.
David Wilson, que foi consultor do Big Brother na Inglaterra e deixou o cargo por questões éticas, não se assustou. "Os cadidatos a um programa assim são considerados estranhos, mas não passam de um produto de uma sociedade que considera a fama acima de todas as coisas", teoriza.
Na Holanda, uma emissora está promovendo um reality chamado "Quero seu bebê, não seu amor", em que homens competem para ser o doador de esperma para uma estranha que deseja um filho, mas não um namorado. Não era exatamente como o original, mas bem próximo.

Com informações da BBC
Cultura & Lazer, jornal O Dia
Em todo lugar existem pessoas que querem seus quinze minutos de fama...

O Pan, um bem para o Rio?

Dengue tem 428 infectados
Alerta para aumento de disseminação da doença devido às chuvas
Rio - O número de casos de dengue no Município do Rio já é maior do que o registrado durante os sete primeiros meses do ano passado na cidade. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, até ontem foram notificados 428 casos da doença no Rio. Entre janeiro e julho de 2005, foram 406 registros. As chuvas que vêm atingindo a cidade aumentam o risco de uma epidemia devido à maior facilidade da proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença.
“A chuva aumenta a preocupação porque os ovos do mosquito podem ficar até um ano na parede de um recipiente sem água. E basta uma chuva para que em 24 horas ele se transforme em larva, que em oito dias será um mosquito”, afirma Anthony Érico Guimarães, entomologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).


Água parada em canteiros de obra da Prefeitura
A região de Jacarepaguá e Barra da Tijuca concentra o maior número de pessoas com a doença. Dos 428 registros, 264 são de moradores da área. Canteiros de obras da Prefeitura preocupam os moradores: na Estrada do Gabinal, canos, placas e sacos plásticos acumulavam água. Na Estrada de Jacarepaguá, água parada funciona como foco de mosquitos.
“Tenho medo desses canteiros porque só de olhar já dá para perceber que se chover eles representam um risco. Na minha casa não tem água parada porque tenho medo de que meus filhos tenham dengue. Acho um absurdo a Prefeitura não cuidar de um espaço dela”, afirma o autônomo Robson de Souza, 20 anos, morador de Jacarepaguá.


Jornal O dia online
Jacarepaguá abrange a Barra da Tijuca e o Recreio, locais do Pan.
O Governo Municipal está voltado, em conjunto com o Estado e o Governo Federal, para disponibilizar instalações esportivas, merecidamente, para as provas.
Pergunto, e a população?
Vocês sabiam que os Hospitais Públicos estão alagados, caindo rebocos e fechando as emergencias em função das chuvas? Que cirurgias estão sendo desmarcadas em função da falta de refrigeração e que os pacientes levam ventiladores de casa para o Hospital, para conviverem com o calor?
Ah! A matéria do Dia acima relata o que ocorre a menos de dois quilometros das instalações do Pan. Abaixo matéria de O Globo.
Pan: União e estado vão investir R$ 120 milhões
A União e o governo estadual vão investir R$ 120 milhões nas obras de construção do Parque Olímpico do Rio, no Autódromo Nelson Piquet, para os Jogos Pan-Americanos de 2007. Já a prefeitura gastará pelo menos mais R$ 120 milhões no complexo, que é a obra mais atrasada nos jogos. A divisão de despesas foi acertada depois de conversas na semana passada entre o ministro interino da Fazenda, Murilo Portugal, e a governadora Rosinha Garotinho.
Sob a responsabilidade da prefeitura, a construção da arena poliesportiva e do parque aquático projetados para o Autódromo deveria ter começado em janeiro de 2005. A previsão agora é que as obras tenham início em meados de fevereiro.
— O Pan é importante para o país e está acima de divergências políticas — disse a governadora Rosinha Garotinho, ao justificar o investimento.
Cesar Maia, por sua vez, respondeu, em entrevista por e-mail, que se deve agradecer a alguém seria apenas às autoridades federais. Para se justificar citou uma frase que atribuiu ao líder comunista Mao Tsé Tung: “Tanto faz a cor do gato contanto que cace o rato”. Na verdade, o autor foi um outro ex-governante da China, Deng Xiao Ping.
“O governo federal quer manter a participação tríplice (União, estado e município) por razões conceituais. Para nós tanto faz, contanto que o recurso federal chegue” acrescentou o prefeito Cesar Maia.
Fonte: O Globo

30 de janeiro de 2006

Saudades de Belém!

Que maravilha um cafezinho com pupunha...

Sérgio Bastos é carioca e vive em Belém desde a infância. Além de artista plástico, é publicitário e jornalista, tendo trabalhado 8 anos em O LIBERAL. Começou a pintar apenas em 2002, aos 45 anos. No ano seguinte, fez a sua primeira exposição individual, onde o tema eram as placas de propaganda popular. Ainda em 2003, expôs pinturas e desenhos tendo o açaí como tema, e participou ainda de duas exposições coletivas. Ilustrou também dois livros infantis, Aranha para os mais Íntimos e A festa no espaço, de Linda Ribeito. Tem obras no acervo da Elf Galeria, galeria de arte do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, galeria do Laboratorio Beneficiente de Belém e Ordem dos Advogados do Pará. Atualmente é Diretor de Arte na Griffo Comunicação. A coluna Belém Tem Disso é publicada aos domingos em O LIBERAL.


29 de janeiro de 2006

Pesquei no VOX LIBRE

O VOX LIBRE, do Antonio Rayol, comentou sobre o bebê resgatado na Lagoa da Pampulha e houve uma intervenção que me chamou a atenção. Copiei porque gostei.

Augusto disse...
Existe uma frase do médico Albert Schweitzer que é bem pertinente ao fato exposto:"Quando o homem aprender a respeitar o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante".
Domingo, Janeiro 29, 2006 12:49:54 AM


28 de janeiro de 2006

Chegou, graças a Deus!

Temporal causa cinco mortes e transtornos no Rio
Rio - Depois de uma semana com a temperatura média em 40 graus, os cariocas foram surpreendidos, na noite desta sexta-feira, com um forte temporal. A chuva, que começou por volta das 18 horas, causou a morte de cinco pessoas: três homens e duas mulheres).
A maior tragédia foi na Avenida Brás de Pina, no estacionamento subterrâneo do Penha Shopping.
Maria Célia Gomes, 42 anos, Cláudio Henrique Chaves Nauzão, 37 e mais duas mulheres morreram afogados depois que tubulação se rompeu. Eles não conseguiram sair dos carros. Bombeiros foram para o local com bomba para retirar a água. Em Duque de Caxias, o segurança Rafael Gonçalves dos Santos, 25 anos, foi eletrocutado ao pisar em fiação elétrica na Rua José de Alvarenga, no Centro.
Jornal O Dia online
Hoje é sexta-feira, dia em que as muitas pessoas escolhem para relaxar e tomar uma biritas com os amigos, ou amigas. Fico pensando nas famílias das pessoas que perderam a vida tragicamente no temporal de hoje.
Conheço muita gente que reclama quando as pessoas se atrasam, chegam mais tarde sem avisar. Normalmente são recebidos com o tradicional "Isso são horas?" Não me lembro de receberem dizendo "Graças a Deus você chegou".
Ainda existem duas pessoas não identificadas e fico imaginando que famílias podem estar chateadas porque um dos seus integrantes ainda não chegou e não sabem como estão.
Vamos aprender a dar Graças a Deus quando alguém da nossa relação familiar ou de amizade se atrasar e chegar.
Vamos festejar a vida!

27 de janeiro de 2006

Chegou para aliviar o calor...

Luciano Santos/Folha
Nuvens negras sobre a Ilha Fiscal (iluminada no centro da foto)... Sei não, sei não....

26 de janeiro de 2006

Feliz que nem pinto no lixo...



Números animam ainda mais a torcida
Júlio Trindade e Marcelo Bertoldo


Botafogo e superstição sempre tiveram uma íntima relação. Passadas três rodadas do Carioca e com 100% de aproveitamento, os números trazem boas lembranças aos alvinegros. Em 1997, quando foi Campeão Carioca pela última vez, o time venceu a Taça Guanabara não perdendo um ponto sequer durante a competição. Na final, derrotou o Vasco por 1 a 0, gol marcado pelo zagueiro Gonçalves. Os torcedores esperam que as campanhas não sejam mera coincidência.

“A superstição sempre fez parte da história do Botafogo e isso pode ajudar na parte psicológica dos jogadores. O trabalho vem sendo feito da melhor maneira e nosso objetivo sempre foi o título da Taça Guanabara. Estamos no caminho certo para atingir nossos objetivos” disse o técnico Carlos Roberto. Na final de 97, Edmundo, que jogava pelo Vasco, chegou a rebolar na frente do zagueiro Gonçalves em um lance próximo a lateral do campo. Após seu gol, Gonçalves revidou a provocação comemorando-o da mesma forma.
Jornals dos Sports
Carlos Roberto tem a confiança da torcida, dirigentes e jogadores. Foi um craque no meio de campo do Botafogo formando com o Gerson uma espinha dorsal de respeito. É sério e criativo, vide o "sutiã" utilizado em treinos que obriga o jogador a olhar o campo e não a bola, é o resgate da técnica.
A torcida tem motivos para comemorar a nova mentalidade e resultados do time. Em casa estamos eufóricos e esperançosos, ainda mais depois da superação contra o Vasco.

Prefeito, o Rio é maravilhoso graças também aos Nordestinos e não apesar deles...

25 de janeiro de 2006

Brasileiro até na mesa

Tom Jobim. O genial compositor, pianista e intérprete carioca, nascido em 25 de janeiro, amava a cozinha nacional. Gostava de canja de galinha e bife com ovo mexido. Mas tinha especial afeição por tudo o que fosse assado na brasa - aves, peixes e crustáceos.

Para o ilustre compositor, pianista e intérprete carioca Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927-1994), ou simplesmente Tom Jobim, falecido na cidade de Nova York, Estados Unidos, gastronomia rimava com boemia. Assinale-se também que ele foi artífice de uma das iguarias musicais mais inspiradas do século XX, a bossa nova - o movimento que procurou dar um caráter universal à música popular brasileira, surgido no fim da década de 50, no Rio de Janeiro. O apreço de Tom Jobim pela madrugada virou hábito logo no início de carreira. Ele iniciava a vida artística como pianista, no Beco das Garrafas, em Copacabana. Na época, era adepto da velha e boa canja de galinha caipira, receita com a qual combatia a má digestão de fundo emocional, que apelidara de "barrigose". O cuidado com o estômago frágil - e mais tarde com o colesterol - acompanhou-o por toda a vida. Por conta disso, cultivou o gosto pelos peixes assados na brasa e praticamente erradicou os molhos pesados de sua mesa.

Em contraste com a sofisticação harmônica e melódica que deleita os ouvidos dos fãs em composições conhecidas no mundo todo, criadas com diferentes parceiros, entre as quais vale destacar "Wave", "Insensatez", "Garota de Ipanema", "A Felicidade", "Chega de Saudade", "Samba de uma Nota Só", "Retrato em Branco e Preto", "Águas de Março" e "Luísa", Tom Jobim demonstrava à mesa hábitos gastronômicos simples, mas profundamente brasileiros. "Ele gostava dos pratos corriqueiros e dos bem nacionais", lembra o filho Paulo, violonista e presidente da Fundação Tom Jobim. Quando batia a saudade, durante o longo período em que viveu em Nova York, consolava-se com um belo bife com ovo mexido e arroz branco. Não era e nunca quis ser um gourmet.

Fazia questão de regar a comida com muita conversa. Além disso, cultivava algumas manias, como lembra Alberico Campana, o amigo de longa data, dono do restaurante Plataforma, carinhosamente apelidado de "Plata", no Leblon, onde o compositor bateu ponto nos últimos cinco anos de vida. "Não podia faltar à mesa dele uma xícara com cinco ou seis dentes de alho semicozido - que Tom Jobim adicionava à carne ou ao peixe, com as mãos", conta Campana. Ambos se conheceram nos anos 1950, no Beco das Garrafas. Ali, o genial compositor e pianista se apresentava. Campana comandava casas noturnas. No início dos anos 1980, de volta ao Brasil, Tom Jobim tornou-se adepto de um tipo particular de boemia: a do almoço. Chegava ao Plata em torno de 1 da tarde e ficava ali até as 5 ou 6, invariavelmente cercado de amigos de diferentes épocas da vida e da carreira, que passavam por sua mesa, a de número 1 do salão, bem perto da porta. Todo mundo que entrava ou saía dava ao menos uma paradinha ali. Entre os freqüentadores assíduos, estavam Chico Buarque de Holanda, João Ubaldo Ribeiro, o ator Antônio Pedro, o cineasta Miguel Farias, cartunistas e desenhistas como Jaguar e Ziraldo, e o poeta Paulo Mendes Campos.

O chopinho não podia faltar. Nos últimos tempos, também se interessava pelo vinho, escolhido com a ajuda de amigos escolados no assunto, como Chico Buarque ou o pintor Antônio Veronese. No prato, reinavam as carnes brancas e peixes como o badejo com alcaparras, servido com legumes e arroz. "Preferia a parte mais alta do peixe, o lombo, preparado na brasa", conta Alberico. Ou o salmão grelhado com panaché de légumes. A sexta-feira era o dia de sardinha fresca. "Ele ainda adorava o camarão grelhado do Plata, servido com salada de batata e maionese", lembra o filho.
Tom Jobim gostava de peixes tanto quanto das infindáveis pescarias que fazia com os filhos e alguns amigos, entre eles outro bossa-novista, Luís Bonfá, autor de "Manhã de Carnaval". "Íamos para a Barra da Tijuca à tarde e seguíamos noite adentro, com vara, anzol, cerveja e muito papo com o Bonfá, o médico Carlos Madeira, o arquiteto Fred Cordeiro", recorda Paulo. O filho se diverte lembrando que o pai costumava igualmente comprar pescados na Cobal do Leblon e levá-los aos restaurantes que freqüentava, pedindo que os preparassem, sem a menor cerimônia.
"Ele chegava com uma bolsa de couro muito surrada a tiracolo e tirava de dentro uns camarõezinhos, ou umas lulas, ou um presunto de Parma, e pedia para prepararmos na cozinha", diz Alberico. Quando estava no Plata e queria comer alguma especialidade do célebre bar Bracarense, outro endereço favorito, Tom não se apertava: no mais autêntico estilo carioca, convocava um funcionário do restaurante para correr até o bar e trazer o que queria - geralmente mocotó ou dobradinha. Chamava o espaço entre o Bracarense, o Plata e a Cobal de "Triângulo das Bermudas do Leblon". Entre os três endereços passava suas tardes e noites, às voltas com amigos, chope, vinho e petiscos.

Tom Jobim também apreciava o contato com a natureza, observando pássaros brasileiros ou mesmo caçando, em companhia de amigos. Houve época em que deixava uma arma enterrada em ponto marcado da mata entre o Leblon e o Vidigal, para facilitar a caçada. Citava com orgulho dois de seus ídolos, também caçadores: o escritor João Guimarães Rosa e o compositor Heitor Villa-Lobos. Tom Jobim era capaz de reconhecer os passarinhos, na floresta, apenas pelo pio, mas em seu prato a ave mais comum era o frango, assado na brasa.

Batizou e tornou famosa uma receita, o "frango atropelado", hoje conhecida nacionalmente: metade da ave, desossada, levada à brasa e achatada com a espátula. O prato bem que poderia ser chamado de frango à Tom Jobim. Junto com a canja de galinha, cuja receita incluía um pouco do sangue do animal, era um dos pratos permitidos em sua luta para controlar o colesterol. Mas os cuidados com a saúde jamais o impediram de provar lascas de costela de boi, bem gorda, ou de picanha argentina, antes de sentar-se à mesa para saborear seu franguinho. Tom chegou a comer muito escargot e steak au poivre no L'Aussace, em Paris, quando foi encontrar-se com Chico Buarque, que estava exilado na Europa durante a ditadura e viria de Roma. No fundo, porém, jamais deixou de continuar brasileiro tanto no hábito de comer quanto no nome, caráter e inspiração artística.

Por André Luiz Barros

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim



SAMBA DO AVIÃO
Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudade
Rio, teu mar, praias sem fim
Rio, você foi feito pra mim

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão
Rio de Janeiro Rio de Janeiro
Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Aperte o cinto, vamos chegar
Água brilhando, olha a pista chegando
E vamos nós
A... ter... rar



24 de janeiro de 2006

Primeiro foi o Merthiolate, agora é a Soja... me enganaram!

24/01/2006 - 12h02m
Soja é alvo de descrédito de associação médica americana
Globo Online

WASHINGTON - A Associação Americana do Coração - American Heart Association (AHA) - retirou integralmente o seu forte apoio à proteína da soja e às isoflavonas como eficazes para reduzir fatores de risco para doenças cardiovasculares.
Em um documento científico divulgado nesta terça-feira - atualização de um publicado em 2000 -, a associação não endossa mais como "prudente" a inclusão da proteína de soja em dietas de baixo consumo de gordura saturada e colesterol.
No novo relatório, a AHA disse que não conseguiu verificar qualquer benefício da proteína da soja, ou das isoflavonas, para baixar o colesterol ruim (LDL) e a pressão arterial, tampouco para aumentar o colesterol bom (HDL).
O documento foi publicado na edição de 24 de janeiro da revista da associação, "Circulation", e foi elaborado com base na análise de dados de 22 estudos clínicos selecionados aleatoriamente.
No entanto, a associação disse que a equipe de pesquisadores que investiga o assunto ainda não se pronunciou a respeito do potencial para manter a saúde do coração de produtos derivados da soja, como tofu e grãos, carne e manteiga de soja.
O professor de nutrição Frank M. Sacks, da Escola de Saúde Pública de Harvard e presidente do comitê que escreveu o novo documento para o Conselho de Nutrição da AHA, afirmou que "o grande efeito da proteína da soja (ou isoflavonas) de baixar o colesterol LDL simplesmente não acontece".
Pessoas que consomem grande quantidade de proteína da soja - a ponto de ultrapassar a metade do total de proteínas ingeridas diariamente - foram beneficiadas com uma redução de apenas 3% do colesterol LDL. E o crédito deste benefício mínimo foi direcionado para a proteína da soja em si, já que as evidências sugerem que as isoflavonas (substâncias presentes na proteína da soja) não mostraram nenhum benefício absoluto. Não houve qualquer evidência de benefícios para o colesterol HDL, e a proteína da soja também não foi capaz, segundo os pesquisadores da associação, de baixar a pressão sangüínea.
A AHA concluiu, então, que "a suplementação de isoflavonas, em alimento ou cápsula, não é recomendada".
De acordo com a AHA, também não há comprovação de que a proteína da soja e as isoflavonas possam reduzir as ondas de calor na menopausa. A soja poderia desacelerar a perda de massa óssea na pós-menopausa, mas a revisão da AHA achou apenas resultados confusos e misturados sobre esta ação específica. E, de acordo com a organização, não existe evidência sólida de que as isoflavonas da soja sejam capazes de prevenir ou tratar câncer de mama, do endométrio ou da próstata.
De qualquer modo, produtos à base de soja são pobres em gordura saturada e ricos em gordura poliinsaturada, fibras, vitaminas e minerais e por isso, a AHA sugere que o tofu e a carne de soja podem ser importantes ingredientes de uma dieta que visa à saúde do coração. Produtos derivados da soja, segundo a AHA, podem substituir alimentos ricos em gordura saturada e colesterol.

Leonidas da Silva, o Diamante Negro

Leônidas da Silva (nascido em 6 de Setembro de 1913 no Rio de Janeiro, falecido em 24 de janeiro de 2004 em Cotia - SP). Filho de "Dona" Maria e do "Sr." Manoel Nunes da Silva. Foi um dos principais jogadores brasileiros de futebol, e talvez, a primeira grande estrela do futebol na era profissional, no Brasil.

Conhecido como o Diamante Negro ou Homem - Borracha, Leônidas da Silva começou sua carreira em 1930 no São Cristovão do Rio. Em 1932 chegou a Seleção Brasileira com apenas 19 anos, devido a sua habilidade com a bola nos pés. Após fazer dois gols na sua estréia vestindo a camisa amarela da Seleção Brasileira, foi jogar pelo Peñarol do Uruguai em 1933. Após um ano, contudo, voltou ao Brasil para jogar pelo Vasco da Gama, o qual ajudou a ganhar o campeonato carioca de 34. A sua primeira competição importante com a camisa da seleção foi a Copa do Mundo, em 1934, na Itália. O Brasil fez uma péssima campanha, perdendo logo na estréia e sendo eliminado, Leônidas marcou o único gol do Brasil na competição. Em 1938, foi artilheiro da Copa do Mundo com 8 gols, incluindo quatro marcados contra a Polônia. Isso fez dele o primeiro jogador da história a marcar quatro gols em uma única partida de Copa do Mundo. O Brasil conseguiu a sua melhor participação em mundiais até então, ficando com a terceira colocação. Posteriormente, Lêonidas foi escolhido o melhor jogador do mundial. Nos clubes ele também obteve êxito, no Botafogo, Flamengo e Vasco ele ganhou títulos e virou ídolo, principalmente no Flamengo. Ele também combateu o preconceito, sendo um dos primeiros jogadores a jogar pelo então elitista time do Flamengo. Em 1942 ele se transfere para São Paulo e atua no São Paulo Futebol Clube. Foi cinco vezes Campeão Paulista se tornado um dos maiores ídolos da história do clube paulista, sendo homenageado no museu do clube com uma réplica de uma bicicleta que ele executou pelo São Paulo. Durante a década de 40, devido a Segunda Guerra Mundial, os mundiais que seriam realizados em 1942 e 1946 foram obviamente cancelados, prejudicando enormemente jogadores como Leônidas, que não tiveram a oportunidade de se tornarem conhecidos e reconhecidos mundialmente. Depois de abandonar os gramados em 1951, ainda continuou ligado ao esporte, foi dirigente do São Paulo. Logo depois virou comentarista esportivo, sendo considerado por muito um comentarista, direto, duro e polêmico, chegou a ganhar sete prêmios Roquette Pinto. Sua carreira de radialista teve que ser interrompida em 1974 devido a doença do Mal de Alzheimer. Durante trinta anos ele viveu em uma casa para tratamento de idosos em São Paulo até morrer em 24 de janeiro de 2004 por causa de complicações relacionadas ao Mal de Alzheimer. A sua esposa e fiel companheira Albertina Santos foi quem cuidava dele até os seus últimos dias, todos os dias, ela visitava o marido e passava o tempo com ele, cuidando do ex-craque. O tratamento foi mantido pelo São Paulo, último time que defendeu como jogador. Ele foi enterrado no Cemitério da Paz em São Paulo.
Graças ao trabalho de pessoas esforçadas o legado do Diamante Negro jamais será esquecido, mesmo o Brasil sendo considerado uma país que não dá atenção aos ídolos do passado. Foi lançada uma biografia do atleta e sua vida vai sair em filme. Tudo para que os amantes do futebol não esqueçam desse que foi um dos maiores jogadores de todos os tempos. Alguns acham que isso ainda é pouco, já que Leônidas foi um dos maiores ídolos do Brasil até o aparecimento de Pelé no final dos anos 50.

A Bicicleta
Leônidas recebeu o crédito por ter inventado a bicicleta. Ele mesmo se autoproclamava o inventor da plástica jogada. Alguns afirmam ter sido criada por um outro jogador brasileiro, Petronilho de Brito, e que Leônidas, "apenas" a teria aperfeiçoado.
A primeira vez que Leônidas executou essa jogada foi em 24 de abril de 1932, em uma partida entre Bonsucesso e Carioca, com vitória do Bonsucesso por 5 X 2. Já pelo Flamengo realizou a jogada somente uma vez em 1939 contra o Independiente, da Argentina, que ficou muito famosa na época.
Pelo São Paulo ele realizou a jogada em duas oportunidades, a primeira em 14 de junho de 1942 contra o Palestra Itália na derrota por 2 x 1. E a mais famosa de todas em 13 de novembro de 1948 contra o Juventus na goleada por 8 X 0. Ficando imortalizada pela mais famosa foto do jogador.
Na Copa do Mundo de 1938 ele também realizou a jogada, para espanto dos torcedores.
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Curiosidades
O apelido de Diamante Negro foi dado pelo jornalista francês Raymond Thourmagem, da revista Paris Match, maravilhado pela habilidade do brasileiro. Já o apelido de Homem-Borracha, também dado pelo mesmo jornalista foi devido a sua elasticidade.
Anos mais tarde a empresa Lacta homenageou-o criando o chocolate diamante negro, vendido até hoje. A empresa só pagou dois contos de réis à época, sendo que Leônidas nunca mais cobrou nada pelo uso da marca.
A derrota do Brasil na semifinal da Copa de 38 para a Itália provocou controvérsias na época, Leônidas não atuou devido a uma lesão, porém, o técnico da seleção na época, Adhemar Pimenta, foi injustamente acusado de ter menosprezado a Itália, poupando Leônidas para a final. Na verdade, o matador não tinha condições de jogo, como ficou comprovado no futuro.
Ainda em consequência dessa derrota, o reserva de Leônidas, o jogador Niginho, declarou em 1958, que Leônidas teria forjado sua contusão para não atuar, devido a um suposto pagamento do ditador italiano, o fascista Benito Mussolini. Leônidas acabou o processando por calúnia e venceu nos tribunais.
Em 1942, em sua chegada a São Paulo, o atleta foi recebido por aproximadamente 10 mil pessoas na estação de trem.

22 de janeiro de 2006

Eu testemunhei...




Hoje foi reabertura do Maracanã. O gramado um verdadeiro tapete, as torcidas do Botafogo e Vasco eufóricas com os times em início de campeonato, mais de 50.000 pessoas presentes. Balões coloridos, faixas, bandeiras e muita música, muitos gritos de guerra para incentivar os times.
Uma festa. Uma vitória que entrará para a história do clássico mais antigo do futebol brasileiro. E eu e o Cezinha participamos, pena que o Junior viajou na hora do jogo.


BOTAFOGO 5 x VASCO DA GAMA 3

Fotos jornal O Dia

20 de janeiro de 2006

Chacrinha

José Abelardo Barbosa de Medeiros (Surubim, PE, 20 de Janeiro de 1916 - Rio de Janeiro, RJ, 30 de Julho de 1988), o Chacrinha, foi um comunicador de rádio e televisão brasileiro, além de apresentador de programas de auditório, sucesso na TV dos anos 50 aos 80.
Aos 10 anos de idade, mudou-se com a família para Campina Grande, na Paraíba. Aos 17, foi estudar no Recife. Começou a cursar faculdade de Medicina em 1936 e, no 3º ano, teve o seu primeiro contato com o rádio ao dar uma palestra sobre alcoolismo.
Interrompeu os estudos e foi para o Rio de Janeiro, onde se tornou locutor na Rádio Tupi. Em 1943, lançou na Rádio Fluminense um programa de músicas de Carnaval chamado Rei Momo na Chacrinha, que fez muito sucesso. Passou então a ser conhecido como Abelardo Chacrinha Barbosa.
Em 1956 estreou na televisão com o programa Rancho Alegre, na TV Tupi, na qual começou a fazer também a Discoteca do Chacrinha. Em seguida foi para a TV Rio e, em 1970, foi contratado pela Rede Globo. Dois anos depois voltou para a Tupi. Em 1978 transferiu-se para a TV Bandeirantes e, em 1982, retornou à Globo.
Alcançou grande popularidade com os seus programas de calouros, nos quais apresentava-se com roupas engraçadas e espalhafatosas, acionando uma buzina de mão para desclassificar os calouros e empregando um humor debochado, utilizando bordões e expressões que se tornariam populares, como "Teresinha!", "Vocês querem bacalhau?" e "Quem não se comunica, se trumbica!".
Outro elemento para o sucesso dos programas para TV eram as chacretes - dançarinas, que faziam coreografias bastante simples e ingênuas para acompanhar as músicas. Além da coreografia ensaiada, as dançarinas recebiam nomes exóticos e chamativos como Rita Cadillac, Índia Amazonense, Fernanda Terremoto, etc. Apesar de vestidas de forma decorosa e rigorosamente acompanhadas pelo apresentador que lhes vedava, por exemplo, encontraram-se com fãs, elas fizeram parte do universo erótico de gerações de espectadores do programa.
Anualmente, lançava em seu programa uma marchinha para o Carnaval.
Conhecido como Velho Guerreiro, em 1987 foi homenageado pela Escola de Samba carioca Império Serrano.
Faleceu de infarto aos 72 anos, no Rio de Janeiro.



Chacrinha foi o maior comunicador do rádio e da televisão brasileira. E do bacalhau também.
É o autor de expressões que se popularizaram por todo o Brasil, como "Quem não se comunica, se trumbica!", "Eu vim para confundir e não para explicar", bordões como "Terezinhaaaaaa...." e da nossa predileta: "Vocês querem bacalhau?". E jogava o bacalhau para a platéia, ou o pepino, ou o abacaxi, não importava.Chacrinha era festa, alegria, o máximo. Seus programas eram cheios de calor humano e divertidíssimos. O povo o amava e não se esquece do Velho Guerreiro "balançando a pança e comandando a massa"(Gilberto Gil - Aquele Abraço).

Homenagem de Drummond a Garrincha dois dias após sua morte, em 22 de janeiro de 1983 no Jornal do Brasil


A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento,
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés – um pé de vento!
Num só transporte, a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: Gooooool!
É pura imagem: um G que chuta um O
Dentro da meta, um L. É pura dança!
"O anjo de pernas tortas", poema de Vinicius de Moraes




A necessidade brasileira de esquecer os problemas agudos do país, difíceis de encarar, ou pelo menos de suavizá-los com uma cota de despreocupação e alegria, fez com que o futebol se tornasse a felicidade do povo. Pobres e ricos param de pensar para se encantar com ele. E os grandes jogadores convertem-se numa espécie de irmãos da gente, que detestamos ou amamos na medida em que nos frustram ou nos proporcionam o prazer de um espetáculo de 90 minutos, prolongado indefinidamente nas conversas e mesmo na solidão da lembrança.

Mané Garrincha foi um desses ídolos providenciais com que o acaso veio ao encontro das massas populares e até dos figurões responsáveis periódicos pela sorte do Brasil, ofertando-lhes o jogador que contrariava todos os princípios sacramentais do jogo, e que no entanto alcançava os mais deliciosos resultados. Não seria mesmo uma indicação de que o país, despreparado para o destino glorioso que ambicionamos, também conseguiria vencer suas limitações e deficiências e chegar ao ponto de grandeza que nos daria individualmente o maior orgulho, pela extinção de antigos complexos nacionais? Interrogação que certamente não aflorava ao nível da consciência, mas que podia muito bem instalar-se no subterrâneo do espírito de cada patrício inquieto e insatisfeito consigo mesmo, e mais ainda com o geral da vida.

Garrincha, em sua irresponsabilidade amável, poderia, quem sabe?, fornecer-nos a chave de um segredo de que era possuidor e que ele mesmo não decifrava, inocente que era da origem do poder mágico de seus músculos e pés. Divertido, espontâneo, inconseqüente, com uma inocência que não excluía espertezas instintivas de Macunaíma – nenhum modelo seria mais adequado do que esse, para seduzir um povo que, olhando em redor, não encontrava os sérios heróis, os santos miraculosos de que necessita no dia-a-dia. A identificação da sociedade com ele fazia-se naturalmente. Garrincha não pedia nada a seus admiradores; não lhes exigia sacrifícios ou esforços mentais para admirá-lo e segui-lo, pois de resto não queria que ninguém o seguisse. Carregava nas costas um peso alegre, dispensando-nos de fazer o mesmo. Sua ambição ou projeto de vida (se é que, em matéria de Garrincha, se pode falar em projeto) consistia no papo de botequim, nos prazeres da cama, de que resultasse o prazer de novos filhos, no descompromisso, afinal, com os valores burgueses da vida.

Não sou dos que acusam dirigentes do esporte, clubes, autoridades civis e torcedores em geral, de ingratidão para com Garrincha. Na própria essência do futebol profissional se instalam a ingratidão e a injustiça. O jogador só vale enquanto joga, e se jogar o fino. Não lhe perdoam a hora sem inspiração, a traiçoeira indecisão de um segundo, a influência de problemas pessoais sobre o comportamento na partida. É pago para deslumbrar a arquibancada e a cadeira importante, para nos desanuviar a alma, para nos consolar dos nossos malogros, para encobrir as amarguras da Nação. Ele julga que entrou em campo a fim de defender o seu sustento, mas seu negócio principal será defender milhões de angustiados presentes e ausentes contra seus fantasmas particulares ou coletivos. Garrincha foi um entre muitos desses infelizes, dos quais só se salva um ou outro predestinado, de estrela na testa, como Pelé.

A simpatia nacional envolveu Mané em todos os lances de sua vida, por mais desajustada que fosse, e isso já é alguma coisa que nos livra de ter remorso pelo seu final triste. A criança grande que ele não deixou de ser foi vitimada pelo germe de autodestruição que trazia consigo: faltavam-lhe defesas psicológicas que acudissem ao apelo de amigos e fãs. Garrincha, o encantador, era folha ao vento. Resta a maravilhosa lembrança de suas incríveis habilidades, que farão sempre sorrir a quem as recordar. Basta ver um filme dos jogos que ele disputou: sente-se logo como o corpo humano pode ser instrumento das mais graciosas criações no espaço, rápidas como o relâmpago e duradouras na memória. Quem viu Garrincha atuar não pode levar a sério teorias científicas que prevêem a parábola inevitável de uma bola e asseguram a vitória – que não acontece.

Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho.
Carlos Drummond de Andrade

19 de janeiro de 2006

E o carioca está matando... o Rio

Assédio de taxistas irregulares e ambulantes provoca blitz da Alerj no cartão-postal do Rio
Mariana Filgueiras

Para reprimir o assédio agressivo de guias, ambulantes e taxistas aos turistas que visitam o monumento do Cristo Redentor, uma força-tarefa foi montada ontem pela Secretaria Estadual de Turismo no Mirante Dona Marta e na subida do Cosme Velho. A blitz começou às 8h30 e durou até as 14h, com o apoio de 20 policiais do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur) e da Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat). A cooperativa de táxi Corcovado Car Service e quatro agências de viagens cadastradas no Ministério do Turismo foram autuadas por cobrar serviços extras, funcionar sem guias legalizados e pelos valor abusivo dos preços.
Menos de uma hora depois do término da operação, no entanto, a bandalha já estava reestruturada: motoristas nem esperavam os visitantes chegarem à Estação de Trem do Corcovado para oferecer os serviços. Camelôs penduravam os badulaques em verde e amarelo nos turistas, que fugiam assustados. Guias-mirins não cadastrados pela prefeitura se amontoavam entre os legalizados para cercar os visitantes, cobrando até R$ 65 pelas informações.
Os policiais que participaram da blitz revelaram o esquema: os próprios rapazes danificam as placas de sinalização para que os turistas tirem as dúvidas com eles.
- O pior é que muitos taxistas cobram um preço aqui embaixo e lá em cima dizem que é outro. Se o turista não quiser pagar, os motoristas deixam eles lá. Alguns cobram taxas pelo uso do elevador e da escada rolante, que não custam nada - contou uma das funcionárias do Trem do Corcovado, que preferiu não se identificar.
Um passeio de meia hora até o Cristo chegava a custar R$ 80 por pessoa, mais do que o dobro do valor do ingresso do trem, R$ 36. Um mapa do Brasil, encontrado em bancas de jornais por R$ 3, não sai por menos de R$ 25 nas mãos de um ambulante - ''aproveita que no Pão de Açúcar eu cobro R$ 40'' - gritava o camelô.
Alertado pela agência de viagens sobre os possíveis achaques, o aposentado inglês Anthony Bowermein preferiu voltar do Corcovado até o hotel onde estava, em Copacabana, de ônibus e não de táxi.
- Alguns comerciantes abusam da simpatia e dos preços - lamentou o turista.
O presidente da Comissão de Turismo da Alerj, deputado estadual Glauco Lopes (PSB) reclama o descaso com o setor turístico, responsável pela movimentação de quase R$ 1 bilhão de reais na alta temporada.
- Irregularidades existem há muito tempo, mas o poder público não combate a desordem. O turista que vem ao Rio é surpreendido com táxis piratas, flanelinhas, ambulantes que assediam os turistas e preços abusivos de estacionamento.
O secretário estadual de Turismo, Sérgio Ricardo de Almeida, acompanhou a blitz e, embora tenha afirmado que não será um paliativo, admitiu que não há como realizá-la por 24 horas.
- É assim mesmo, quem faz bandalha fica esperando a nossa saída, mas a fiscalização continua até o carnaval.

Cristo fica mal na foto
Depois da recepção agressiva na base do Corcovado, o turista tem outra decepção quando chega ao topo do monumento mais famoso da cidade - um tapume encobre todo o pedestal do Cristo Redentor. No auge da alta temporada, quando o Rio recebe pelo menos 15 mil turistas por dia, segundo cálculos da Secretaria Municipal de Turismo, o visitante é obrigado a descer vários lances de escadas para que as telas que escondem o trabalho não apareçam nas fotografias.
Realizadas por parcerias entre empresas privadas, as obras de restauração do pedestal e da capela deveriam ter terminado em novembro, mas o prazo foi estendido para a última terça-feira. A reforma já se arrasta há mais de um ano. Os pedreiros garantem que até o carnaval não há como finalizar o projeto - ''ainda estamos trabalhando no tijolo'' - diz um deles, de dentro da capela.
- Choveu muito no fim do ano, e isso atrasou o andamento das obras. Além disso, ampliamos o projeto de recuperação da capela - explica o diretor do Trem do Corcovado, Sávio Neves, umas das empresas responsáveis pelo financiamento das obras.
A família de turistas japoneses Tsuo - pai, mãe, dois filhos e sobrinha - tentava entender porque o pedestal estava encoberto.
- Não há nenhuma explicação aqui, se o Cristo está danificado ou se a obra oferece riscos - reclamava o pai, o administrador de empresas Tamiko Tsuo.
A primeira reforma no Cristo aconteceu em 1990 - 59 anos após a inauguração -, quando foram encontrados mais de 200 pontos com rachaduras. Outra reforma, preventiva, foi realizada em abril de 2000, mas na base nada foi feito. No início de 2004, a conseqüência: uma das placas de granito preto da base despencou.
Copiado do Jornal do Brasil

14 de janeiro de 2006

BENDITA CACHAÇA

Nosso popular destilado finalmente ocupa o lugar de destaque que merece e conquista o status de nobre

Desde a Idade Média, quando, em algum lugar do Oriente, um alquimista inventou o alambique, uma legião de países destila um cereal, uma fruta ou uma erva para fazer uma bebida típica. O Brasil faz parte desse time, com nossa popular cachaça. É claro que ela ainda não tem a fama da vodka ou do cognac, mas o panorama está mudando e, de bebida amaldiçoada com a tarja de falta de qualidade, ela agora é rotulada como chique e elegante. E este coro não é orquestrado por apreciadores nacionais, numa campanha xenófoba, mas sim por estrangeiros. Na Alemanha, a cachaça é a bebida mais pedida depois da cerveja, e chega a custar o equivalente a 15 reais a dose.Nos Estados Unidos, a revista In Style elegeu a caipirinha feita com nosso destilado o drinque mais quente do século. Virou moda. O tradicional coquetel feito de limão, açúcar e cachaça foi incluído na International Bartender Association, órgão que regulamenta as normas da coquetelaria, e já está entre os oito mais pedidos do mundo. Hoje, essa "senhora" brasileira povoa mesas sofisticadas em mais de trinta países.
Para vigiar de perto esse crescimento e, conseqüentemente, sua qualidade, foi criado o Programa Brasileiro para Desenvolvimento da Cachaça (PBDC), que estuda, entre outras coisas, a implantação de um selo de aprovação. Outra prova de que a indústria está preocupada com a qualidade são os lançamentos das grandes marcas industrializadas de bebidas especiais. A Müller, por exemplo, famosa pela tradicional 51, elaborada em Pirassununga, São Paulo, vende a Terra Brazilis, um tipo envelhecido em barris de carvalho importado. Outra gigante, a pernambucana Pitú, que exporta 2 milhões de litros por ano, tem na Gold, envelhecida em barris de carvalho, sua marca top.
Na mesma linha está a cearense Ypióca, com uma coleção de especiais: 150 anos, envelhecida em tonéis de carvalho e bálsamo; Rio, guardada por seis anos no carvalho e também uma orgânica. Os produtores comemoram os avanços, mas sabem que o caminho a percorrer é longo. O Brasil produz 1,8 bilhão de litros de cachaça anualmente, porém apenas uma pequena fatia dessa produção segue para o exterior. Em um mercado de bebidas destiladas que movimenta mundialmente 15 bilhões de dólares por ano, o país exporta apenas 8,5 milhões de dólares. Muito pouco se comparado aos 100 milhões de dólares da Tequila e aos 3,8 bilhões de dólares do Scotch Whisky. Ainda assim os ventos sopram favoráveis.
A bebida figura em uma lista do Ministério da Agricultura como um dos cinqüenta produtos com capacidade para dobrar a exportação nos próximos dois anos.

OS SEIS MANDAMENTOS DA BOA CACHAÇA
Não é preciso esperar o dia seguinte nem a dor de cabeça para saber se uma cachaça tem qualidade. Embora não existam regras claras sobre o que faz ou não uma bebida de excelência, algumas características do bom produto são inegáveis.

Listamos alguns truques para você identificar a bebida especial:

1º - A boa cachaça não resseca a boca nem queima a garganta.

2º - Também não deixa "bafo". Seu odor tem de ser suave. Cheire a cachaça ou esfregue uma pequena quantidade na palma da mão. O buquê deve ser agradável e lembrar suavemente o aroma da cana.

3º - A bebida de qualidade, quando agitada, forma uma espuma que deve desaparecer, no máximo, em 30 segundos. Agite o recipiente e confira.

4º - Despeje lentamente a bebida nas paredes do copo e observe. Ela deve escorrer como um fino óleo.

5º - Verifique contra a luz se o líquido é transparente e não contém impurezas.

6º - Uma vez aberta, a garrafa deve ser mantida bem fechada, para evitar a evaporação.

Revista Gula, abril/2002, Edição 114
Por: Ivana Elvas e Daniel Rizzo
Fotos: Ricardo D'Angelo

Campeonato Carioca: o caso de amor que dura um século


Fãs do futebol festejam com paixão o centenário do mais charmoso campeonato do Brasil

Rio - Há 100 anos, o Rio de Janeiro tinha aproximadamente 800 mil habitantes. Era uma cidade em ebulição, que enfrentava sérios problemas de crescimento desenfreado. A então capital da jovem república era a mais populosa do Brasil e contava com ruelas estreitas e cortiços, tomados por ambulantes, animais soltos, lixo, alto comércio e importantes casas financeiras. A população sofria com epidemias de febre amarela, peste bubônica e varíola. Através de seu porto, o Rio recebia e exportava toda a sorte de doenças.
Pois foi nesse conturbado cenário que, no dia 3 de maio de 1906, Fluminense e Paysandu entraram em campo para disputar o jogo de abertura do primeiro campeonato de futebol da história. A partida terminou 7 a 1 para o Tricolor, que, após dez jogos, conquistou o título, com nove vitórias e uma derrota.
Pouco mais de mil pessoas assistiram a esse primeiro jogo, disputado no Estádio das Laranjeiras. Bem diferente do Fla-Flu que decidiu o Campeonato Carioca de 1963, quando um público de 177.020 viu o Flamengo dar a volta olímpica após empatar em 0 a 0 com o Tricolor. Este jogo tem um recorde que jamais será batido: o de maior assistência nos 100 anos da competição.
Nesses 100 anos, muita coisa mudou. Foram duas grandes guerras e outros conflitos sangrentos que deixaram marcas por toda a humanidade. Regimes políticos e ditadores conheceram a glória e a derrocada. Nove Papas ocuparam o trono de São Pedro, e o homem conquistou o Espaço. A informática e as telecomunicações uniram e encurtaram o Planeta, aproximando pessoas de diferentes culturas e civilizações.
Nos gramados do Estado do Rio, os torcedores viram crescer a paixão pelo esporte que chegou à cidade trazido pelo jovem Oscar Cox, em 1897. Estudante numa escola da Suíça, ele voltou com as bolas na mala e ajudou a fundar, em 1902, o Fluminense Football Club.
O Botafogo veio em seguida, em 1904, e depois, à medida que o campeonato entusiasmava, surgiram as equipes de futebol de duas grandes agremiações dedicadas ao remo: Flamengo e Vasco da Gama.
A paixão não parou de crescer. E foi alimentada essencialmente pela rivalidade entre estes dois clubes de regatas, que mobilizavam multidões onde iam jogar.
O Vasco eternizou craques como Ademir, Jair, Barbosa, Danilo, Roberto Dinamite e Romário, entre outros. Do lado rubro-negro, a galeria não é menos famosa: Domingos da Guia, Leônidas, Zizinho, Dida e Zico são heróis da maior torcida do Brasil.
Integram o Campeonato Estadual 2006 as equipes da Portuguesa, Cabofriense, América, Americano, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Friburguense, Madureira, Nova Iguaçu, Vasco e Volta Redonda.
Matéria copiada do jornal O Dia
Visitem o endereço oficial www.futebolcarioca.com.br

13 de janeiro de 2006

A rapadura é nossa!

Integrantes da Feira de São Cristóvão defendem rapadura brasileira durante protesto
Bruno Menezes
Rio - Todos os integrantes da Feira de São Cristóvão, que acontece no Centro de Tradições Nordestinas Luiz Gonzaga, fizeram um protesto bem-humorado na manhã desta sexta-feira em frente ao Consulado da Alemanha, em Laranjeiras, na Zona Sul. A manifestação é por conta da polêmica da rapadura brasileira, que foi patenteada pela empresa alemã Rapunzel. Os manifestantes distribuíram rapadura para populares e não houve problemas, nem tumulto.
Representante do setor comercial do consulado, Klaus Mullers, desceu patra conversar com os manifestantes, entre eles, o presidente da feira, Agamenon de Almeida. Ele disse que o consulado nada pode fazer para reverter o processo de patenteação da rapadura. Nesse caso, a Embaixada do Brasil na Alemanha é que tem tomar providências. Klaus Mullers também comeu rapadura e usou chapéu de couro como os manifestantes.
Jornal O Dia

12 de janeiro de 2006

Palhaço Carequinha volta a ser internado

O artista George Savalla Gomes, 90, intérprete do palhaço Carequinha, voltou a ser internado. Desde sábado, ele está na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora (MG), onde foi submetido a uma cirurgia para corrigir um problema (estreitamento) na uretra, a fim de desobstruir esse canal urinário.
A previsão é de que Gomes --que tem uma irmã na cidade mineira, e o sobrinho é prefeito-- receba alta nesta sexta-feira (13). Em novembro de 2005, o artista chegou a ser internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), em um hospital no Rio, para tratar um quadro de desidratação, pneumonia e anemia. Durante essa internação no Rio, foi detectada uma insuficiência renal crônica, também controlada. Nascido em Rio Bonito (interior do Rio de Janeiro) no circo em que a família trabalhava, George começou a carreira artística com cinco anos. Em 1938, estreou como cantor na Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. Em 1950 passou a trabalhar na TV Tupi.Em julho de 2005, a gravadora EMI Music lançou o CD "Carequinha --90 Anos de Espetáculo" para comemorar os 90 anos do artista e seus 85 anos de carreira.
da Folha Online

Parabéns, Belém!

Santa Maria de Belém do Grão Pará faz 390 anos hoje. Hoje você tem a chance de mimar esta morena de curvas cheirosas, de caminhos que em outubro exalam o perfume das delícias do Círio. Você já parou para se perguntar o que é Belém hoje? Mistura de novo e velho? Cidade de gente acolhedora, que leva o visitante para dentro de casa como se conhecesse há muitos anos?
Belém é tudo isso sim. É a volta de carro no final da tarde que começa na Doca até chegar à Estação. Na Estação, Belém é o pôr-do-sol amazônida, que merece o aplauso dos hippies, como no Rio de Janeiro. É a juventude das modinhas, das moças e moços de sorrisos bonitos, de domingos calorentos, desses que é preciso sair de casa para passear na praça da República. O final do dia pode ser em algum bar à beira da baía. Pode ser no cinema. O Cine Olímpia é o mais antigo do Brasil e fica na sua cidade, sabia? Ao lado dele, coladinho, coladinho, fica o Rosário - que muitos conhecem como 'Maranhão', por conta da origem do dono do negócio - carrinho que serve o melhor cachorro-quente da cidade. Tudo bem, pode não ser o melhor, o da sua esquina (eles estão em todas, repare) deve ser ainda mais gostoso.
Belém também é ópera. Poucos lugares reúnem tanta gente ao ar livre para ouvir com muita atenção sopranos e outros craques da música clássica. Por falar em craques, futebol também é sinônimo de Belém. Dois tons de azul dão a cor da paixão. Remo e Paysandu (em ordem alfabética para evitar confusão), duas paixões distintas, duas paixões que são a cara da cidade. Jogo aos domingos, radinho de pilha, churrasquinho de 'gato', a rampa do Mangueirão. Dividir esse amor? Nem pensar! Só a seleção canarinho conseguiu e foi de arrepiar. Campo lotado (porque aqui ninguém fala estádio), verde do gramado, amarelo das camisas da torcida. Brasil, Belém.

A cidade palavra
Emanuel Matos

Belém do Pará.
A cidade está na palavra
Assim como
A palavra está na cidade
Simetricamente postas.
Ambas não têm limites.
Uma veio do oriente
Ao ocidente
A outra faz o caminho inverso.
As duas têm ruas estreitas
Para nos salvar
Avenidas largas para pecar
Além das rotas estelares
Para se achar novos caminhos.
Belém, a palavra
Contém o mesmo som de sino
Que contém a cidade.
Fiéis aos seus destinos
Cidade e palavra
Me provocam desatinos.
Sinos para os mortos
Sinos para o Natal
Sino para o ano novo
Sino Batismal
Sinos para condenação
Para avisar os inimigos
Ou a chegada do peixe.
Sinos da vitória
Sinos de Belém
Sinos de outrora que me lembro
Tão bem.
Anunciando triste
A morte do Cristo, também.
A palavra e a cidade
São como são, dissílabos
Infinitamente silábicas
Ao se reproduzirem em músicas
Variadas.
Valsas para o Palacete Pinho
Polcas para os casarões
Maxixes para as rocinhas
Para as Igrejas cantochão
Carnaval para as pracinhas
Numa nota que seja minha
Para dizer que sou tua
Pode ser um Si
Cuja cifra é um B de Belém
Ave! Cidade amada.

Fotos copiadas do Diário do Pará e texto do portal ORM

11 de janeiro de 2006

Oswald de Andrade

José Oswald de Andrade Souza (11 de janeiro de 1890 - 22 de outubro de 1954), escritor, ensaísta e dramaturgo brasileiro.
Foi um dos promotores da
Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo, tornando-se um dos grandes nomes do modernismo literário brasileiro. Foi considerado pela crítica como o elemento mais rebelde do grupo.

O papel de Oswald no Modernismo Brasileiro
Um dos mais importantes introdutores do Modernismo no Brasil, foi o autor de dois incontornáveis manifestos modernistas: O Manifesto da Poesia Pau Brasil e o Manifesto Antropófago.
Indissociável da figura de Mário de Andrade, ambos os autores funcionaram como um dínamo na introdução e experimentação do movimento, unidos por uma profunda amizade que durou muito tempo.
Embora menos profundo e analítico, Oswald de Andrade era muito mais extrovertido e provocador que o seu colega modernista. Nesse aspecto não só os seus escritos como as suas aparições públicas serviram para moldar o ambiente modernista da década de 1920 e de 1930.
Foi um dos interventores na Semana da Arte Moderna de 1922. Essa semana teve uma função simbólica importante na identidade cultural brasileira. Por um lado celebrava-se um século da independência política do país colonizador Portugal, e por outro consequentemente, havia uma necessidade de se definir o que era a cultura brasileira, o que era o sentir brasileiro, quais os seus modos de expressão próprios. No fundo procurava-se aquilo que Herder definiu como alma nacional (volksgeist). Esta necessidade de definição do espírito de um povo era contrabalançada, e nisso o modernismo brasileiro vai a par com as vanguardas europeias do princípio do século, por uma abertura cosmopolita ao mundo.
Nos anos vinte Oswald voltou-se contra as formas cultas e convencionais da arte. Fossem elas o romance de idéias, o teatro de tese, o naturalismo, o realismo, o racionalismo e o parnasianismo (por exemplo Olavo Bilac). Interessaram-lhe, sobretudo, as formas de expressão ditas ingénuas, ou o abstracionismo, a recuperação de elementos locais, aliados ao progresso da técnica, um misto de dorme néne que o bicho vem pegá e de equações.
Num primeiro momento Oswald propôs uma carnavalização de todos os valores, na atitude típica da vanguarda iconoclasta, que depois refundiu para a expressão de revolução antropofágica.
Foi com surpresa e satisfação que Oswald de Andrade descobriu, na sua estada em Paris na época do Futurismo e especialmente do Cubismo, que os elementos de culturas até aí consideradas como menores, como a Africana ou a Polinésia, estavam a ser integrados na arte mais avançada. Assim a arte da Europa industrial era renovada com uma revisitação a outras culturas e expressões de outros povos. Oswald apercebeu-se que o Brasil e toda a sua multiplicidade cultural, desde as variadas culturas autóctones dos índios até à cultura negra, eram uma mais valia e que com elas se podia construir uma identidade e renovar as letras e as artes. Tenta fundir, pôr ao mesmo nível, os elementos da cultura popular e erudita, fazendo tábula rasa das categorias que T. S. Eliot iria cunhar como sendo upper culture e lower culture. Sugeriu ainda que as normas académicas da fala fossem abolidas o que exprimiu na sua poesia.

O Manifesto da Poesia Pau Brasil (1924)
O manifesto da poesia Pau-Brasil é do mesmo ano que o Manifesto Surrealista de André Breton, o que reforça a tese de que o Brasil estava a acompanhar plenamente o movimento das vanguardas mundiais. Tinha deixado definitivamente de ser uma forma de expressão pós-portuguesa para se afirmar plena e autonomamente. Neste manifesto Oswald defende uma poesia que seja ingênua, mas ingênua no sentido de não contaminada por formas preestabelecidas de pensar e fazer arte. “Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.”
O manifesto desenvolve-se num tom de paródia e de festa, de prosa poética pautada com frases aforísticas. Nele se expressa que o Brasil passe a ser uma cultura de exportação, à semelhança do que foi o produto pau-brasil, que a sua poesia seja um produto cultural que já não deve nada à cultura europeia e que antes pelo contrário pode vir a influenciar esta. Oswald defende uma poética espontânea e original, as formas de arte estão dominadas pelo espírito da imitação, o naturalismo era uma cópia balofa. “Só não se inventou a máquina de fazer versos- já havia o poeta parnasiano”. Afirma assim uma poesia que tem que ser revolucionária. “O trabalho contra o detalhe naturalista- pela síntese, contra a morbidez romântica. - pelo equilíbrio geômetra, e pelo acabamento técnico, contra a cópia, pela invenção e pela surpresa”.
Talvez não seja muito errado afirmar que este manifesto poderia ser considerado como um futurismo tropicalista. “temos a base dupla e presente-. a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva doce.”

Manifesto Antropófago (1928)
Foi publicado no primeiro exemplar da Revista de Antropofagia. Os exemplares desta publicação eram numerados como primeira dentição, segunda dentição, etc.
Este Manifesto constitui-se numa síntese de alguns pensamentos do autor sobre o Modernismo Brasileiro. Inspirou-se explícitamente em Marx, em Freud, Breton, Montaigne e Rousseau e atacava explícitamente a missionação, a herança portuguesa e o padre António Vieira: Antes de os portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade; Contra Goethe (que simboliza a cultura clássica européia). Neste sentido, assina o manifesto como tendo sido escrito em Piratininga (nome indígena para a planície de onde viria a surgir a cidade de São Paulo), datando-o esclarecedoramente como ano 374, da Deglutição do Bispo Sardinha, o que denota uma recusa radical, simbólica e humorísticamente, do calendário gregoriano vigente.
Há várias idéias que estão implícitas neste manifesto, sendo de lamentar que o seu autor não tivesse o espírito sistemático e mais profundo do seu amigo Mário de Andrade para as ter explanado de uma maneira mais substantiva. Uma é conhecida da antropologia e tem a ver com o papel simbólico do canibalismo nas sociedades tribais/tradicionais. O canibal nunca come um ser humano por nutrição, mas sim sempre para incluir em si as qualidades do inimigo ou de alguém. Assim o canibalismo é interpretado como uma forma de veneração do inimigo. Se o inimigo tem valor então tem interesse para ser comido porque assim o canibal torna-se mais forte. Oswald actualiza este conceito no fundo expressando que a cultura brasileira é mais forte, é colonizada pelo europeu mas digere o europeu e assim torna-se superior a ele: Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Matias. Comi-o.
Outra idéia avançada é a de que a maior revolução de todas vai se realizar no Brasil: Queremos a revolução Caraíba.
Outra idéia é a de que o Brasil, simbolizado pelo índio, absorve o estrangeiro, o elemento estranho a si, e torna-o carne da sua carne, canibaliza-o. Oswald recusa as religiões do meridiano que são aquelas de origem oriental e semita que deram origem ao cristianismo. Sendo a favor das religiões indígenas, com a sua relação directa com as forças cósmicas.
O manifesto insiste muito nas ideias de Totem e Tabu, expressas em um trabalho de Freud de 1912. Segundo Freud o Pai da tribo teria sido morto e comido pelos filhos e posteriormente divinizado. Tornado Totem e por isso mesmo sagrado, consequentemente criaram-se interdições à sua volta.
Citando o Manifesto: Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem. A antropofagia segundo Oswald é uma inversão do mito do bom selvagem de Rousseu, que era puro, inocente, edénico. O índio passa a ser mau e esperto, porque canibaliza o estrangeiro, digere-o, torna-o parte da sua carne. Assim o Brasil seria um país canibal. O que é um ponto de vista interessante porque subverte a relação colonizador/(activo)/colonizado(passivo). O colonizado digere o colonizador. Ou seja, não é a cultura ocidental, portuguesa, européia, branca, que ocupa o Brasil, mas é o índio que digere tudo o que lhe chega. E ao digerir e absorver as qualidades dos estrangeiros fica melhor, mais forte e torna-se no brasileiro.
Assim o Manifesto Antropófago, embora seja nacionalista não é xenófobo, antes pelo contrário é xenofágico: Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

Obras principais
1924: Memórias sentimentais de João Miramar (romance)
1925: Pau-brasil (poesia)
1937: O rei da vela (teatro)
1928: Manifesto antropófago

Stanislaw, o Brasil estaria mais divertido com você aqui

Sérgio Porto ou Sérgio Marcus Rangel Porto (11 de janeiro de 1923 - 30 de setembro de 1968, Rio de Janeiro) foi um cronista, escritor, radialista e compositor brasileiro, mais conhecido por seu pseudônimo Stanislaw Ponte Preta.

"Auto-retrato do artista quando não tão jovem"
"ATIVIDADE PROFISSIONAL: Jornalista, radialista, televisista (o termo ainda não existe, mas a atividade dizem que sim), teatrólogo ora em recesso, humorista, publicista e bancário.
OUTRAS ATIVIDADES: Marido, pescador, colecionador de discos (só samba do bom e jazz tocado por negro, além de clássicos), ex-atleta, hoje cardíaco. Mania de limpar coisas tais como livros, discos, objetos de metal e cachimbos.
PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES: Mulher.
QUALIDADES PARADOXAIS: Boêmio que adora ficar em casa, irreverente que revê o que escreve, humorista a sério.
PONTOS VULNERÁVEIS: Completa incapacidade para se deixar arrebatar por política. Jamais teve opinião formada sobre qualquer figurão da vida pública, quer nacional, quer estrangeira.
ÓDIOS INCONFESSOS: Puxa-saco, militar metido a machão, burro metido a sabido e, principalmente, racista.
PANACÉIAS CASEIRAS: Quando dói do umbigo para baixo: Elixir Paregórico. Do umbigo para cima: aspirina.
SUPERTIÇÕES INVENCÍVEIS: Nenhuma, a não ser em véspera de decisão de Copa do Mundo. Nessas ocasiões comparativamente qualquer pai-de-santo é um simples cético.
TENTAÇÕES IRRESISTÍVEIS: Passear na chuva, rir em horas impróprias, dizer ao ouvido de mulher besta que ela não tão boa quanto pensa.
MEDOS ABSURDOS: Qualquer inseto taludinho (de barata pra cima).
ORGULHO SECRETO: Faz ovo estrelado como Pelé faz gol. Aliás, é um bom cozinheiro no setor mais difícil da culinária: o trivial.
Assinado, Sérgio Porto, agosto de 1963."

Filho de Américo Pereira da Silva Porto e de D. Dulce Julieta Rangel Porto, Sérgio Marcos Rangel Porto, um cidadão acima de qualquer desfeita, nasceu no Rio de Janeiro em pleno verão, no dia 11 de janeiro de 1923, e ficou famoso anos depois sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, emprestado à Oswald de Andrade (vide Memórias de Serafim Ponte Grande). Foi casado com Dirce Pimentel de Araújo, com quem teve três filhas: Gisela, Ângela e Solange.

Era um mestre das comparações enfáticas:
"Mais inchada do que cabeça de botafoguense"
"Mais assanhado do que bode velho no cercado das cabritas"
"Mais suado do que o marcador de Pelé"
"Mais duro do que nádega de estátua"
"Mais feia do que mudança de pobre"
"Mais murcho do que boca de velha"

Traçou, em 12 palavras, o retrato de uma época , os tais anos dourados nada permissivos, quando o preconceito prevalecia, principalmente em matéria de sexo:
"Se peito de moça fosse buzina, ninguém dormia nos arredores daquela praça". Antes da liberação sexual, as praças e outros cantinhos escuros eram, então, um buzinaço.

Criador de Tia Zulmira, Rosamundo e Primo Altamirando, foi com seu Festival de Besteira que Assola o País - FEBEAPÁ, lançado em plena vigência da Redentora, apelido do golpe militar de 1964, que ele alcançou seu grande sucesso. Stanislaw afirmava ser difícil precisar o dia em que as besteiras começaram a assolar o Brasil, mas disse ter notado um alastramento desse festival depois que uma inspetora de ensino no interior de São Paulo, portanto uma senhora de nível intelectual mais elevado pouquinha coisa, ao saber que o filho tirara zero numa prova de matemática, embora sabendo tratar-se de um debilóide, não vacilou em apontar às autoridades o professor da criança como perigoso agente comunista.
Outras besteiras colhidas pelo autor:"No mesmo dia em que o governo resolvia intervir em todos os sindicatos, resolvia mandar uma delegação à 16a. Sessão do Conselho de Administração da OIT, em Genebra. Ao Brasil caberia exatamente fazer parte da Comissão de Liberdade Sindical.Na mesma ocasião, um time da Alemanha Oriental vinha disputar alguns jogos aqui e então o Itamarati distribuiu uma nota avisando que eles só jogariam se a partida não tivesse cunho político. Em Mariana, MG, um delegado de polícia proibia casais de se sentarem juntos na única praça namorável da cidade, baixando portaria dizendo que moça só podia ir ao cinema com atestado dos pais. Em Belo Horizonte, um outro delegado distribuía espiões pelas arquibancadas dos estádios. Dali em diante quem dissesse mais de três palavrões ia preso."

Na mesma época (1954) em que o jornalista Jacinto de Thormes publicou na revista Manchete a lista das "Mulheres Mais Bem Vestidas do Ano", Stanislaw, que escrevia na mesma revista sobre teatro-rebolado, não quis ficar por baixo e inventou a lista das "Mulheres Mais Bem Despidas do Ano". Com a grita das mães das vedetes, passou a usar uma expressão ouvida de seu pai -- "Olha só que moça mais certa" -- e estavam, assim, criadas as "certinhas" do Lalau. De 1954 a 1968 foram 142 as selecionadas. Dentre outras, podemos citar Aizita Nascimento, Betty Faria, Brigitte Blair, Carmen Verônica, Eloina, Íris Bruzzi, Mara Rúbia, Miriam Pérsia, Norma Bengell, Rose Rondelli, Sônia Mamede e Virgínia Lane.

Ao contrário do que parecia ser -- um cara folgado, brincalhão, gozador e pouco chegado ao labor, Sérgio Porto, por suas inúmeras atribuições, era um lutador. Nos últimos anos de vida tinha uma jornada nunca inferior a 15 horas de trabalho por dia."Só estou levantando o olho da máquina de escrever pra botar colírio. Hoje fui gravar na televisão e antes foi aquela batalha contra as teclas. Estou trabalhando demais, outra vez. Só para esta semana: seis Stanislaws, um Fatos & Fotos, um final apoteótico para o novo programa do Chico Anísio, roteiro e script para aquela bosta chamada Espetáculos Tonelux, depois quadros humorísticos para a TV Rio, Miss Campeonato, Da Boca pra Fora, o programa de rádio Atrações A-9, além da revisão do livro O Homem ao Lado que será reeditado no próximo mês e da gravação do programa Qual é o assunto?" Para alguém que teve seu primeiro infarto ao 36 anos, era demais.

"Tunica, eu tô apagando". Essas foram as últimas palavras ditas pelo autor ao sofrer seu derradeiro infarto, no dia 29 de setembro de 1968. Tinha 45 anos.

Obras publicadas

Como Stanislaw Ponte Preta:
Tia Zulmira e Eu (1961)
Primo Altamirando e Elas (1962)
Rosamundo e os Outros (1963)
Garoto Linha Dura (1964)
FEBEAPÁ1 (Primeiro Festival de Besteira Que Assola o País) (1966)
FEBEAPÁ2 (Segundo Festival de Besteira Que Assola o Pais) (1967)
Na Terra do Crioulo Doido (1968)
FEBEAPÁ3 (1968)
A Máquina de Fazer Doido (1968)

Como Sérgio Porto:
A Casa Demolida (1963)
As Cariocas (1967)

10 de janeiro de 2006

Sua benção, Lalá...

O Compositor Lamartine Babo nasceu no Rio de Janeiro, no dia 10 de Janeiro de 1904, ano da fundação do América. Tijucano e americano fanático, Lamartine protagonizou cenas memoráveis como o desfile que fez em carro aberto pelas ruas do centro do Rio, fantasiado de diabo, comemorando o último campeonato do América em 1960.
Mesmo tendo sido um leigo em técnica musical, Lamartine criou melodias maravilhosas, resultantes de seu espírito inventivo e altamente versátil. Começou a compor aos 14 anos - a valsa "Torturas do Amor" e, aos 16 anos, compõe a opereta "Cibele". Quando foi para o Colégio São Bento dedicou-se a músicas religiosas.
Porém, foi através das marchinhas carnavalescas, cantadas até hoje, como O Teu Cabelo Não Nega, Grau 10, Linda Morena, e A Marchinha do Grande Galo, que o seu nome se tornou mundialmente conhecido como o Rei do Carnaval. Em suas letras, predominavam o humor refinado e a irreverência. Como poucos, Lamartine alcançou os dois extremos da alma brasileira: a gozação e o sentimento. Fez também a maioria dos hinos dos grandes times de futebol - sendo o primeiríssimo em seu coração o América.
Lamartine Babo, o Lalá, era uma das pessoas mais bem humoradas e divertidas de sua época, não perdendo nunca a chance de um trocadilho ou de uma piada. Em uma entrevista afirmou "Eu me achava um colosso. Mas um dia, olhando-me no espelho, vi que não tenho colo, só tenho osso". Numa outra, o entrevistador pergunta qual era a maior aspiração dos artistas do broadcasting, Lalá não vacila: "A aspiração varia de acordo com o temperamento de cada um... Uns desejam ir ao céu... já que atuam no éter... Outros ‘evaporam-se’ nesse mesmo éter... Os pensamentos da classe são éter... ó... gênios..." - valeu-lhe o título de O Pior Trocadilho de 1941.
E aconteceu também o caso dos correios: Lalá foi enviar um telegrama, o telegrafista bateu então o lápis na mesa em morse para seu colega: "Magro, feio e de voz fina". Lalá tirou o seu lápis e bateu: "Magro, feio, de voz fina e ex-telegrafista"
Sua primeira marchinha gravada, foi a divertida "Os Calças-Largas", em que Lamartine debochava dos rapazes que usavam calças boca-de-sino. Em 1937, com a censura imposta pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, carnavalescos irreverentes como Lamartine Babo ficaram proibidos de utilizar a sátira em suas composições. Sem a irreverência costumeira, as marchinhas não foram mais as mesmas.
Em 1951, aos 47 anos, Lamartine Babo, que nunca tivera sorte no amor, casou-se, enfim. Morreu vitimado por um enfarte, no dia 16 de Junho de 1963, deixando seu nome no rol dos grandes compositores deste país. Seu amigo e parceiro João de Barro, o popular Braguinha, disse certa vez: "Costumo dividir o carnaval em duas fases: Antes e depois de Lamartine".


Chegou a hora da fogueira
É noite de São João
O céu fica todo iluminado
Fica o céu todo estrelado
Pintadinho de balão
Pensando na cabocla a noite inteira
Também fica uma fogueira
Dentro do meu coração
("Chegou a Hora da Fogueira")
No Rancho Fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria
Nem de noite nem de dia
Os arvoredos
Já não contam mais segredos
E a última palmeira
Já morreu na cordilheira
("Rancho Fundo") com Ary Barroso
Salve a lourinha
Dos olhos verdes – cor das nossas matas
Salve a mulata
Cor do café, a nossa grande produção
São, são, são, são
Quinhentas mil morenas!
Louras, cor de laranja, cem mil!
Salve, salve, meu carnaval Brasil!
("Hino do Carnaval Brasileiro")

Eu Sonhei que Tu Estavas Tão Linda

Eu sonhei que tu estavas tão linda,
Numa festa de raro esplendor,
Teu vestido de baile, lembro ainda,
Era branco, todo branco, meu amor!
A orquestra tocou umas valsas dolentes,
Tomei-te aos braços, fomos dançando,
Ambos silentes...
E os pares que rodeavam entre nós,
Diziam coisas, trocavam juras, à meia voz,
Violinos enchiam o ar de emoções,
E de desejos, uma centena de corações...
Pra despertar teu ciúme,
Tentei flertar alguém,
Mas tu não flertaste ninguém,
Olhavas só para mim,
Vitoria de amor cantei,
Mas foi tudo um sonho... Acordei!
Hino do Botafogo
Botafogo, Botafogo
Campeão desde 1907
Foste herói em cada jogoBotafogo,
Por isso que tu és
E hás de ser
Nosso imenso prazer
Tradições,
Aos milhões tens também.
Tu és o glorioso
Não podes perder,
Perder para ninguém
Em outros esportes
Tua vida está presente,
Honrando as cores
Do Brasil e da nossa gente
Na estrada dos louros,
Um facho de luz,
Tua estrela solitária
Te conduz

8 de janeiro de 2006

Mau caráter. Desrespeitou a torcida que o escolheu como ídolo.



Jonílson já está no Cruzeiro
Cabeça-de-área desdenha da sua passagem pelo Botafogo e deixa Carlos Roberto revoltado



Jonílson mostra com "orgulho" o escudo do Cruzeiro, como fez em diversas oportunidades com o do Botafogo


Após a queda-de-braço entre o técnico Paulo César Gusmão e o vice-presidente de futebol do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro, e um dia depois de obter a liminar que o desvinculou do Botafogo, o cabeça-de-área Jonílson, de 27 anos, assinou contrato com o Cruzeiro por dois anos (com opção de renovação por mais três) e será o novo substituto do chileno Maldonado. “Agora, no Cruzeiro, vou realizar o sonho de jogar por uma grande equipe”, afirmou Jonílson, revelado nas categorias de base do Volta Redonda.
Ao tomar conhecimento dessa declaração, o técnico do Botafogo, Carlos Roberto, respondeu à altura: “Jonílson foi bastante infeliz. Ele já tem 27 anos e não sabe a história do Botafogo. E foi ingrato com o clube que o projetou para o futebol. Mas não tem importância, pois existem na sua posição muitos jogadores melhores do que ele.”
A polêmica transação teve um capítulo no Tribunal, já que os dirigentes alvinegros acusam os mineiros de terem aliciado o jogador, que move desde novembro contra o Botafogo, clube com o qual tinha compromisso até 2008, uma ação na Justiça do Trabalho reivindicando a liberação de seus direitos econômicos e federativos.
Jonílson revela que havia uma opção do Botafogo de prorrogação do contrato, que não foi exercida em razão do atraso no depósito do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e obrigações previdenciárias: “Infelizmente, houve isso sim e optei por defender o Cruzeiro.”
O jogador foi derrotado em primeira instância, mas o julgamento definitivo da ação está marcado para o próximo dia 19, na Vara do Trabalho do Rio de Janeiro. O vice jurídico do clube, Vantuil Gonçalves, garantiu que vai tomar as medidas cabíveis para cassar esta liminar que o cabeça-de-área obteve, sexta-feira passada — através do advogado Paulo Reis (vice-jurídico do Vasco) —, a fim de que pudesse deixar o Botafogo.
“Se Jonílson está sob o efeito desta liminar, pode fazer isso. A questão é que, se conseguirmos cassá-la, que é o que a gente espera, depois ele vai ter de se reapresentar ao Botafogo”, disse o advogado.

Jornal dos Sports

6 de janeiro de 2006

Ufa! por Arthur Dapieve

Ufa!

Para minha própria surpresa, consegui cumprir a resolução para 2005: tirar folga do Botafogo. Esta palavra não apareceu sequer como sinônimo para “bairro da Zona Sul cortado pelas ruas Voluntários da Pátria e São Clemente, oito letras” nas 50 colunas do ano passado. Não escrevi sobre o time, não assinei o pay-per-view da NET, não fui à Arena da Ilha, não me manifestei em público sobre vitórias ou derrotas. Trapaceei um pouco só à mesa do café: algumas poucas vezes comecei a leitura do jornal pelo Esporte.
Anunciei o voto de silêncio no penúltimo texto de 2004. Estava exaurido após um Brasileirão de lascar. Durante o derradeiro jogo, contra o Atlético-PR, em Curitiba, a cada bolinha na tela da Globo, eu despetalava a margarida: bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer... A nossa permanência na Série A foi sacramentada apenas ao apito final da última rodada. Putz. Precisava entender qual o papel do Botafogo na minha vida, além de pô-la em risco: sou hipertenso. Também necessitava de mais tempo para tocar um trabalho.
Na viagem de autoconhecimento pelo Caminho de General Severiano, descobri o óbvio: não há razão alguma para torcer pelo Botafogo. Por mais que o cérebro apele para a história gloriosa ou os sentidos, para o uniforme guapo, o que há é paixão, inexplicável, irredutível a qualquer explicação. Ao dar um tempo na relação, olhei em volta, vi outras possibilidades e compreendi que ela se insere no quadro maior de amor pelo futebol.
Porque distanciar-me do Botafogo — não o clube do qual não sou sócio, mas o time objeto da minha paixão — não significou sufocar as boas e más emoções do esporte. As conquistas e as exibições da seleção brasileira, bem como o escândalo da arbitragem, não permitiram. Dei o braço a torcer ao mudado Parreira. Vibrei muito com o chocolate do Barcelona sobre o franquista Real Madrid, com a vitória dramática do Internazionale sobre o berlusconista Milan e até com o magro triunfo do São Paulo sobre o Liverpool.
Nada contra os Beatles e o Echo & The Bunnymen. Tenho, isso sim, algo a favor do técnico Paulo Autuori, campeão brasileiro de 1995 com o Botafogo. A gratidão foi capaz de suspender por 90 minutos a velha ojeriza pelo tricolor paulista. Quando Autuori chegou ao Botafogo, 11 anos atrás, escrevi uma notinha considerando a contratação de um técnico desconhecido uma brincadeira de mau gosto do nosso então presidente, Carlos Augusto Montenegro. Queimei a língua. Adoro queimar a língua assim.
Agora, investido no cargo de vice de futebol pelo presidente Bebeto de Freitas, Montenegro parece querer repetir a mandinga de 1995 com Carlos Roberto. Como técnico, ele escapa de ser outra piada de mau gosto porque bateu um bolão no meio-campo do Botafogo de Gérson, Jairzinho e Paulo César, no fim dos anos 60. O problema é que o time precisa de craques no gramado. O nono lugar no Brasileirão passado veio de forma medíocre: entrávamos em campo sedados, sei lá, e ficávamos torcendo para o ataque do adversário perder mais gols do que o nosso. Fizemos 57 e tomamos 56.
Para o início da temporada 2006, acertadamente foi mantida a defesa que encerrou o Campeonato Brasileiro como a quarta menos vazada: o goleiro Lopes, o lateral-direito Ruy, os zagueiros Scheidt e Rafael Marques... Segundo li, continua no elenco até o lateral-esquerdo Bill, que, dizia-se, era passageiro certo na barca do Botafogo. Quem partiu foi o povo do meio-campo para a frente: os veteranos Caio, Ramon, Alex Alves e Guilherme. Justo. Formaram o sexto pior ataque da competição nacional. Para o seu lugar...
Bem, aí é que o bicho pega. Fora o mediano meia Lúcio Flávio, o Botafogo fechou apenas com um bando de defensores desconhecidos-que-ninguém-conhece. Tipo um volante uruguaio nascido na Argentina e que jogava na segunda divisão do México. Ou um zagueiro reserva do Paysandu, que foi rebaixado à Série B com a defesa mais vazada do último Nacional: o seu goleiro teve de ir buscar a bola no fundo do filó 92 vezes.
Lá para a frente, ainda se fala no manjado Dodô e em Salgueiro, uruguaio de 22 anos que o Danúbio não quer liberar. Felizmente, ao menos, não veio Renaldo, de quase 36 anos, meros cinco gols no Brasileirão, para formar o ataque e uma dupla sertaneja com o Reinaldo, que fez sete. Assim, capaz de sobrar uma camisa de titular para o Almir, profissional que detesta jogar futebol, mas é arrimo de família numerosa. Pelo andar da carruagem, o Botafogo vai continuar sendo o grande clube que não ganha clássicos.
Este, na verdade, é o pior tormento nos últimos anos. Não dá para gozar ninguém na mesa do botequim. Em 2005, por exemplo, entre os campeonatos Estadual e Brasileiro, o nosso retrospecto contra o Fluminense foi de três derrotas (0 a 4, 2 a 3 e 1 a 2); contra o Flamengo, de um empate (2 a 2) e duas derrotas (0 a 2 e 1 a 3); e, contra o Vasco, de dois empates (1 a 1 e 2 a 2) e uma derrota (0 a 1). Placar geral: 20 a 9 eles. Vexame completo.
A nossa única vitória nos dérbis foi anulada com outros dez jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho. Com justiça, sejamos francos: não existiu aquele pênalti contra o Vasco. Chora-se que a arbitragem favoreceu o Fluminense nos encontros da Série A, esperneia-se que o time entregou as duas partidas para o Flamengo ameaçado de rebaixamento. Não me interessa. O que eu quero é voltar a ganhar clássicos em 2006.
Arthur Dapieve escreve no Segundo Caderno de O Globo