31 de maio de 2008

Taí, gostei...


Wagner vs Pânico

29/05 por Redação

RG leu na Globo.com uma carta aberta do ator Wagner Moura que vale a pena ler. Ela fala por si:

"Quando estava saindo da cerimônia de entrega do prêmio APCA, há duas semanas em São Paulo, fui abordado por um rapaz meio abobalhado. Ele disse que me amava, chegou a me dar um beijo no rosto e pediu uma entrevista para seu programa de TV no interior. Mesmo estando com o táxi de porta aberta me esperando, achei que seria rude sair andando e negar a entrevista, que de alguma forma poderia ajudar o cara, sei lá, eu sou da época da gentileza, do muito obrigado e do por favor, acredito no ser humano e ainda sou canceriano e baiano, ou seja, um babaca total. Ele me perguntou uma ou duas bobagens, e eu respondi, quando, de repente, apareceu outro apresentador do programa com a mão melecada de gel, passou na minha cabeça e ficou olhando para a câmera rindo. Foi tão surreal que no começo eu não acreditei, depois fui percebendo que estava fazendo parte de um programa de TV, desses que sacaneiam as pessoas. Na hora eu pensei, como qualquer homem que sofre uma agressão, em enfiar a porrada no garoto, mas imediatamente entendi que era isso mesmo que ele queria, e aí bateu uma profunda tristeza com a condição humana, e tudo que consegui foi suspirar algo tipo "que coisa horrível" (o horror, o horror), virar as costas e entrar no carro. Mesmo assim fui perseguido por eles. Não satisfeito, o rapaz abriu a porta do táxi depois que eu entrei, eu tentei fechar de novo, e ele colocou a perna, uma coisa horrorosa, violenta mesmo. Tive vontade de dizer: cara, cê tá louco, me respeita, eu sou um pai de família! Mas fiquei quieto, tipo assalto, em que reagir é pior.

" O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice "

O táxi foi embora. No caminho, eu pensava no fundo do poço em que chegamos. Meu Deus, será que alguém realmente acha que jogar meleca nos outros é engraçado? Qual será o próximo passo? Tacar cocô nas pessoas? Atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite sorridente do telespectador? Compartilho minha indignação porque sei que ela diz respeito a muitos; pessoas públicas ou anônimas, que não compactuam com esse circo de horrores que faz, por exemplo, com que uma emissora de TV passe o dia INTEIRO mostrando imagens da menina Isabella. Estamos nos bestializando, nos idiotizando. O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice. Amigos, a mediocridade é amiga da barbárie! E a coisa tá feia.

" Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência "

Digo isso com a consciência de quem nunca jogou o jogo bobo da celebridade. Não sou celebridade de nada, sou ator. Entendo que apareço na TV das pessoas e gosto quando alguém vem dizer que curte meu trabalho, assim como deve gostar o jornalista, o médico ou o carpinteiro que ouve um elogio. Gosto de ser conhecido pelo que faço, mas não suporto falta de educação. O preço da fama? Não engulo essa. Tive pai e mãe. Tinham pais esses paparazzi que mataram a princesa Diana? É jornalismo isso? Aliás, dá para ter respeito por um sujeito que fica escondido atrás de uma árvore para fotografar uma criança no parquinho? Dois deles perseguiram uma amiga atriz, grávida de oito meses, por dois quarteirões. Ela passou mal, e os caras continuaram fotografando. Perseguir uma grávida? Ah, mas tá reclamando de quê? Não é famoso? Então agüenta! O que que é isso, gente? Du Moscovis e Lázaro (Ramos) também já escreveram sobre o assunto, e eu acho que tem, sim, que haver alguma reação por parte dos que não estão a fim de alimentar essa palhaçada. Existe, sim, gente inteligente que não dá a mínima para as fofocas das revistas e as baixarias dos programas de TV. Existe, sim, gente que tem outros valores, como meus amigos do MHuD (Movimento Humanos Direitos), que estão preocupados é em combater o trabalho escravo, a prostituição infantil, a violência agrária, os grandes latifúndios, o aquecimento global e a corrupção. Fazer algo de útil com essa vida efêmera, sem nunca abrir mão do bom humor. Há, sim, gente que pensa diferente. E exigimos, no mínimo, não sermos melecados.

No dia seguinte, o rapaz do programa mandou um e-mail para o escritório que me agencia se desculpando por, segundo suas palavras, a "cagada" que havia feito. Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência. E contra a audiência não há argumentos. Será?"


Boa, já passou da hora de respeitar profissionais!

27 de maio de 2008

Repassando...


Publicada em: 25/05/2008

NO PAÍS DOS REGINALDOS
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Brasil, um país de cornos. Calma, leitor(a). Essa é apenas uma humilde e desinteressada sugestão (quem sabe até uma constatação?) de slogan para o desgoverno rasgar logo a fantasia e cuspir na cara de todos que o rei está nu, mesmo, vai continuar andando nu e que quem não quiser olhar a constrangedora nudez do rei tem mais é que fechar os olhos – de um jeito ou de outro.

No país de Reginaldo Rossi, a brasileirada (doravante denominada “Reginaldinhos”) torce por um campeonato de Stock Car que é “multimonomarca”. Explico: Por fora, o telespectador vê veículos com quatro bolhas multicoloridas diferentes. Uma exibe a marca Peugeot, outra exibe a marca GM, outra exibe a marca VW e outra exibe a marca Mitsubishi. No que o telespectador acredita? Que quatro marcas lutam entre si nas pistas para mostrar ao consumidor em potencial quem é a melhor e, assim, conquistar o seu bolso. As bolhas até se assemelham aos carros que andam nas ruas, para criar um clima de pseudo-competitividade ainda mais intenso.

Acontece que os “Reginaldinhos” estão vendo, em realidade, carros exatamente iguais voando sobre a pista. Nenhum deles, nem mesmo remotamente, possui motor GM, VW, Peugeot, ou Mitsubishi – nem mesmo versões mais potentes, preparadas por cada uma das fábricas ou equipes individuais, o que seria até natural em competições. Os “Reginaldinhos” estão torcendo por carros que possuem o mesmo chassi, o mesmo câmbio, o mesmo motor – tudo feito longe das quatro fábricas envolvidas nas competições. Daí a expressão “multimonomarca”. Pode-se inferir, a partir daí, que Stock Car é corrida de corno? É difícil precisar. Mas eu não colocaria a mão no fogo das caras-metades enquanto os “Reginaldinhos” estão babando por sua “marca” preferida nos autódromos.

Esses mesmos “Reginaldinhos” são contra a tecnologia nos estádios de futebol, apesar de adorarem um “replay instantâneo” das jogadas mais importantes enquanto estão afundados no sofá da sala. Com isso, todo o avanço tecnológico da eletro-eletrônica não avança quando o assunto é permitir aos técnicos de cada equipe três chances – por meio de “replays instantâneos” – de contestar decisões da arbitragem que sejam potencialmente catastróficas. O bacana, mesmo, é xingar a mãe do juiz a plenos pulmões das arquibancadas, enquanto o time, em campo, vê deslizar ladeira abaixo todo um esforço, todo um treinamento, toda uma programação, talvez até todo um longo e difícil campeonato, por causa de um simples erro do árbitro que não pode ser contestado.

Aliás, são alguns desses mesmos “Reginaldinhos” que reclamam, indignados, que a venda de bebidas alcoólicas é liberada nas estradas federais, e que por causa disso ocorrem os tenebrosos acidentes registrados ultimamente. Enquanto fazem força para tirar o sofá da sala, como todo corno que se preza, os “Reginaldinhos” ignoram que a bebida adquirida num supermercado dentro do perímetro urbano embebeda do mesmo jeito que a vendida na beira da estrada, e que a obrigação do motorista é não beber, ponto final. A carga que ele transporta pode até ser composta inteiramente de passageiros bêbados, mas ele, motorista, tem que estar sóbrio. Para continuar vivo, para não matar ninguém e para não ir parar na cadeia.

O fenômeno da ressurreição da CPMF também deixa os “Reginaldinhos” elétricos. Desmemoriados, eles ignoram que o novo imposto vá ter sua alíquota miudinha estuprada num futuro não muito distante, da mesma forma que a CPMF original, e que a parcela destinada à Saúde(?) acabará ficando na quinta parte do todo que, na realidade, deveria representar.

Fazer o quê? No fim das contas, o Brasil “é assim mesmo”…

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Veja as novidades no Blog do Lessa, atualizado constantemente, e... divulgue o site para os amigos! www.claudiolessa.com



Vamos acordar, vamos acordar...

O nosso Brasil está tendo uma crise de acomodação, onde cada um acha que está levando vantagem e não estamos preocupados com o que estamos criando.

Vamos acordar!

10 de maio de 2008

A última crônica de Artur da Távola: camarão com catupiri

"Ainda rapaz, minha mãe anunciava com alegria, ao receber o salário modesto de funcionária pública no fim do mês: “Hoje vai ter camarão com catupiri”.

Prato denso pela consistência daquele requeijão no qual, ademais, ela adicionava deliciosos palmitos. Não usava molho de tomate de lata (“muito ácido”, dizia), nem colocava ervilhas. O camarão era grande, gostoso e bem mais barato então. Falo de molho de tomate e ervilhas porque, depois, a especiaria ganhou fama e até estrelato em nobres cardápios, tornando-se, também, salgada no preço. Apareceu em jantares finos e restaurantes metidos. E com molho de tomate e ervilhas.

Aos poucos, porém, foi perdendo ‘status’. Dos jantares finos sumiu, porque se tornou lugar comum e, também, porque camarão é caro e rico não é besta.

Nos restaurantes (r)existe, porém, pálida lembrança: o (que era) ‘catupiri’ com camarão está mais para molho branco com farinha de trigo que para o velho e saboroso requeijão. E o pior! Caso se deseje usar o catupiri mesmo, ao vivo e a cores, este envelheceu, tornou-se ralo e aguado, dissolve-se e dessora uma gordura amarelada. Sucumbiu aos imitadores. E, depois destes, veio ainda a legião de copos e mais copos de requeijão cremoso, díspares na qualidade e malandros nos preços, porém mais práticos até pelo aproveitamento do copo que substitui a simpática caixinha redonda, de madeira. Mas sem a mesma consistência de quase queijo, com certeza.

Pobre vovô catupiri, que não conseguiu entrar com saúde na terceira idade! A vertigem do consumo o pilhou desprevenido, sem condições de reproduzir a classe de antigamente. Mesmo assim resiste, que bom! Apesar de soltar a amarela e assustadora camada de gordura liquefeita, para tais iguarias ainda é melhor que o requeijão de copo, pois este precisa ser engrossado com farinha; e o “catupa”, não.

Ele virou, porém, marca e símbolo de um modo de cozinhar acepipes: coxinha de frango com catupiri; rissole de camarão com catupiri; empadinhas de galinha ou camarão com catupiri. O nome prolifera e dobra o preço: rissole de camarão custa a metade de rissole de camarão com catupiri. E a imaginação criadora disparou, inventando até um deslumbrante croquete de aipim recheado com catupiri. Comi um na ‘Chez Anne’ e quase chorei de emoção.

Mas o camarão com catupiri inesquecível de minha mãe, este não existe mais.

O tempo o levou. E a ela, cuja perda não tem solução."

A coluna de Artur da Távola era publicada em O Dia D. Este é seu último texto inédito.





O Rio ficou muito, mas muito mais pobre. Foi-se um homem íntegro, inteligente, culto, um político com densidade que representou o Estado com verdadeiro peso. Apontem um político atual do Rio de Janeiro com tantas qualidades, eu desafio...

Artur da Távola era o pseudônimo do carioca Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros, nascido em 3 de janeiro de 1936. Formou-se em Direito em 1959, mas seu envolvimento com o movimento estudantil o levou, já no ano seguinte, a ser eleito deputado constituinte pelo estado da Guanabara.

Foi reeleito em 1962 e ingressou no PTB. Cassado pelo regime militar, exilou-se na Bolívia e Chile entre 1964 e 1968. Ao retornar, adotou o pseudônimo de Artur da Távola e começou a escrever sobre televisão no jornal ‘Última Hora’.
“Artur da Távola foi a primeira pessoa a fazer crítica de televisão a sério no Brasil”, recordou o cineasta Zelito Viana.
Ao longo da vida, publicou 23 livros e comandou programas de jornalismo e música clássica no rádio e na TV. Atualmente, dirigia a rádio Roquette Pinto, que passou por reformulação sob seu comando. “Era um craque em tudo o que se metia: rádio, TV, música, jornalismo, política... Ele fez uma revolução na Roquette Pinto. Agora abriu-se um buraco”, lamentou o jornalista Sérgio Cabral.

Em 1988, foi um dos fundadores do PSDB e se elegeu deputado federal constituinte. Em 1994, ao lado do ex-governador do Rio Marcello Alencar, concorreu e foi eleito ao Senado. “Fizemos a campanha juntos. Ele estava sempre alegre e brincávamos muito. Gostava da vida, era um homem romântico”, recordou Alencar.

Pensador independente, deixou o Senado em 2003, mas se manteve referência respeitada. “Artur era muita coisa numa pessoa só. Ele foi um exemplo de uma vida sem rasuras”, elogiou o presidente do PSDB no Senado, Arthur Virgílio. “É um dos grandes homens públicos de seu tempo, referência para minha geração”, afirmou o governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

“Nos deixou um dos melhores homens públicos do Brasil. Perdi um amigo íntimo e sábio”, lamentou o prefeito de São Paulo, José Serra, que foi com Távola para o exílio no Chile.

Meio cultural sente a perda do crítico

Artur da Távola foi um defensor incansável da cultura no Brasil. “Sempre o admirei pela coragem de suas posições políticas e pelas crônicas inesquecíveis que assinou, fazendo análises precisas, inteligentes e argutas das nossas novelas”, disse a novelista Glória Perez.

“Ele emprestou sua cultura para que a TV brasileira não se tornasse um subproduto”, lembrou a atriz Christiane Torloni. “Seu papel foi de grande importância cultural no rádio e TV da nossa cidade. Como político, manteve-se sempre coerente com seus ideais democráticos”, disse o autor de novelas Manoel Carlos.

“Sua trajetória de escritor, jornalista e político sério dedicado às melhores causas são exemplo a ser observado com muita atenção por todos que desejem uma vida pública séria e limpa”, comentou o presidente da Academia Brasileira de Letras, Cícero Sandroni.