5 de maio de 2007

FORA DE SINTONIA





Publicada em: 30/04/2007

Quem tem tempo para perder, além de curiosidade e paciência infinitas, constata que a observação do que acontece no Brasil é uma fonte inesgotável de reflexão. É impressionante o tempo que se perde com o debate de não-assuntos - ou seja, aqueles temas em que apenas o aproveitamento da experiência de países mais adiantados por parte de um governo sério resolveria em dois tempos um caminhão de problemas.

Claro, esse tipo de conceito passa longe dessas terras. O negócio aqui é reinventar a roda, sob o patrocínio do roque santeiro de plantão. O atual, revestido de teflon, está sempre pronto para bancar o pai de todos e declarar que não se pode comparar o que acontece aqui com a realidade dos outros países. Algo, mais ou menos, como se vivêssemos num planeta à parte, inexplicavelmente ligado aos outros países da Terra pelos meios físicos convencionais.

Vejamos o caso da maioridade penal, por exemplo. Está mais do que claro, dos pontos de vista teórico e prático, há muitos anos - vamos usar como referência de tempo, arbitrariamente, o surgimento da pílula anticoncepcional. Pelo menos desde que surgiu a pílula, está claro que uma pessoa de catorze, quinze anos de idade, tem uma noção muito mais completa, nítida, transparente do que é certo e do que é errado. Do que é um comportamento aceitável e do que é um crime.

No entanto, não é de hoje que brasileiro adora uma masturbação mental. Parece que isso ajuda a passar o tempo sem que nada seja resolvido, para benefício daqueles que já estão com a vida ganha. Do futebol à fórmula um, da política partidária ao sistema eleitoral, do sistema de governo à lei de execuções penais, nada muda. Todo mundo sabe o que é preciso ser feito para consertar o país, mas nunca há clima.

O menor de idade que arrastou o garotinho de seis anos preso ao cinto de segurança do carro pelo lado de fora sabia o que estava fazendo. Ele estava desesperado porque é pobre, sem chances de ascensão social? Não é desculpa. Ele estava maconhado, ou coisa pior? Não é desculpa. Ele estava possuído por um espírito maligno que lhe dizia ao ouvido que fizesse coisas ruins e orientasse seus asseclas para o mal? Aí já é apelação de advogado de porta de cadeia. Nem a médium Allison Dubois, nem a moreninha bem nutrida de Ghost Whisperer entrariam nessa.

O que acontece é que num país onde todo mundo tem horror à palavra responsabilização - ninguém quer ser responsável por absolutamente nada - jogar o que se acredita ser um piano de cauda desse tamanho nas costas da pobre juventude inocente e pura é algo impensável. Ninguém parou para pensar num velho ditado - "quem não deve, não teme". Para o jovem que anda na linha, a maioridade penal pode ser estabelecida aos sete anos de idade, como na Austrália ou na Índia, ou em alguns estados norte-americanos, ou aos oito anos, como no Reino Unido, ou aos doze, como na Espanha e no Canadá. Não vai fazer a menor diferença.

Agora, por aqui, no fazendão, onde o moto ideológico parece ser mesmo o de criar uma sociedade sem freios, vamos de arrastão em arrastão, de aviõezinhos em aviõezinhos no rumo que o nosso inimputável líder nos levar.

Um comentário:

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