4 de março de 2007

Cidade Maravilhosa sem praias

Juliana Anselmo da Rocha

"Até o ano 2100, a Cidade Maravilhosa pode perder um de seus maiores encantos: as praias. A partir da opinião de especialistas, o JB projetou um cenário crítico para o futuro da cidade com o aquecimento global.

Pesquisas sobre o impacto do efeito estufa no Brasil divulgadas pelo ministério do Meio Ambiente colocam o Rio de Janeiro entre as áreas mais vulneráveis à subida do nível do mar - entre 40 centímetros e 1,5 metro.

- O Rio é particularmente frágil pela número de atividades na costa - observa o professor de meteorologia da UFRJ, Isimar Santos. - Suas montanhas restringem a faixa de terreno que pode ser ocupada. A produção industrial e a população se concentraram à beira-mar.

Prainha, Macumba, Praia da Barra, São Conrado, Leblon, Ipanema e Arpoador sofrerão mais com a erosão. Grandes ressacas - hoje a cada dois ou quatro anos - se tornarão anuais e "comerão" a faixa de areia. Em anos atípicos, a fúria do mar ocorrerá de duas a três vezes.

- Ressacas violentas como a de 2002, que tomou a praia da Barra, se tornarão freqüentes - garante o professor do departamento de análise geoambiental da UFF, Júlio César Wasserman. - A água avançará até duas quadras em bairros como Leblon e Ipanema, alcançando vias principais como a Ataulfo de Paiva e a Visconde de Pirajá.

Mais freqüentes serão as tempestades. Os ventos atingirão velocidades de ciclones. O professor do programa de engenharia oceânica da Coppe-UFRJ, Paulo Cesar Rosman, acredita que "as janelas dos prédios na orla serão arrebentadas".

Uma mureta de contenção com cerca de 40 centímetros de altura seria necessária para assegurar o passeio tranqüilo em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas daqui a 100 anos. Mas estragaria a vista do espelho d'água.

- A proteção não precisaria ser muito alta porque nas lagoas a força das ondas é pequena - explica Wasserman.

As mudanças se somarão à poluição do despejo irregular de esgoto na Lagoa Rodrigo de Freitas para causar um aumento da mortandade de peixes. Mas, para o especialista, mais afetada seria a Lagoa da Barra.

- Os manguezais do entorno serão dizimados - aposta. - Os pescadores, que já reclamam da escassez de peixes, terão ainda mais dificuldade.

Enise Valentim, da Coppe-UFRJ, completa que as ressacas poderão provocar o rompimento do cordão frontal de areia da Lagoa da Barra, "permitindo que o mar galgue para dentro e altere sua salinidade".

Sem a cobertura vegetal nos morros ocupados pelas favelas, a terra das encostas fica fofa, e os deslizamentos "matarão centenas", para Wasserman. O alerta vale para quedas constantes de barreiras em estradas da Região Serrana por causa das chuvas.

Mas a água não é o único problema. Com o calor, aumentam os mosquitos e os surtos de dengue e até de febre amarela.

Embora admitam os impactos na geografia carioca, os pesquisadores divergem quanto à sua intensidade.

- Não é como se o mar fosse engolir as cidades litorâneas - alerta o pesquisador Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, José Antônio Marengo. - Apenas a faixa de areia das praias encurtará.

Dúvidas também surgiram na divulgação em janeiro na França do relatório do Painel Internacional do Clima. Só há um consenso: as mudanças serão lentas, com tempo para criação de estratégias que reduzam os prejuízos."



Que futuro para os nossos filhos, netos... sem contar com o lulismo.


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