24 de março de 2007

O FORTE APACHE DE IMPERATRIZ

"Caro(a) leitor(a), imagine um cabaré de cegos. Tudo na maior confusão. Ninguém enxerga nada. Todos se acotovelam, e de vez em quando alguém cai no chão, sendo pisoteado. O barulho é insuportável. A música, mais enlouquecedora do que esses bate-estacas de raves - um conjunto de ruídos que se torna suportável apenas se o ouvinte tomar alguma droga, em geral ilícita. De vez em quando, por puro acaso, algo dá certo ou começa a ter a perspectiva de dar certo, embora as chances, num ambiente desses, é de que tudo dê errado, mesmo.

Assim foi, assim é e parece que assim continuará sendo o Brasil. O mais recente exemplo a dar suporte à teoria de que o Brasil não passa de um cabaré de cegos vem do Maranhão. Está tudo nos jornais e, em resumo, é o seguinte: a família que manteve um domínio feudal sobre o estado durante quatro décadas entrou pelo cano nas últimas eleições para governador. Eis que das catacumbas surge a proposta de realização de um plebiscito para a criação do estado do Maranhão do Sul. O objetivo mais imediato, claro, é o de rachar ao meio o terreno conquistado pelos adversários. Perdida a cidade de São Luís, é chegada a hora de tentar montar um novo forte apache em Imperatriz.

É assim que as coisas funcionam no Brasil: aos arrancos, aos trancos e barrancos. Não é um conjunto de raciocínios claros e límpidos, mas sim um coração partido que acaba determinando mudanças muito importantes para o país, como essa de dividir em dois, três, quatro, cinco pedaços esses estados imensos que não têm a menor chance de se desenvolver se não forem retalhados. Num país desse tamanho, não há dinheiro que resolva, e, não se esqueça, não há capacidade administrativa instalada - em geral, o QI dos nossos donatários é simplesmente muito baixo, e quase todos eles demonstram compartilhar de uma miopia crônica difícil de ser erradicada.

Aí, chega-se à encruzilhada. Por um lado, é mais do que ótima a idéia de se partir em dois o Maranhão, logo contestada por aqueles que só vêem o inchaço da máquina pública, sem pensar no resto. Agora. Por outro lado, o Brasil só vai conseguir esse tipo de reformas geopolíticas, administrativas, quando alguém perder a eleição e fizer beicinho? Nesse ritmo, não vai haver PAC que agüente pra tentar empurrar o Brasil pra frente...

E já que estamos em estado alfa, caro(a) leitor(a), aproveite a onda e imagine um Brasil com cinqüenta e um estados - não é uma boa idéia? - com regime parlamentarista e sua maior estabilidade política em vários sentidos, e o voto distrital puro - ou seja, cada representante gastando a sola de seu sapato em uma pequena região, indo de casa em casa para explicar ao seu eleitor o que anda fazendo depois de eleito - sem falar na resultante de um aumento consistente do PIB de oito, nove, dez por cento, ano após ano.

Pronto, pode acordar. Nada disso acontece porque não se divide os estados em pedaços menores, não se implementa o voto distrital, não se adota o regime parlamentarista. Um dia, quem sabe? Vai ver que é, por causa disso tudo, que esse cabaré de cegos é considerado o país do futuro. No meio dessa confusão toda, parece que é por aqui que Deus ainda consegue escrever o certo por linhas tortas. Só que, vamos e venhamos, demora pra burro."




Estou devagar por motivos profissionais mas tenho acompanhado os blogs amigos, me aguardem...

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