17 de março de 2010

Estupidez artificial

Uma mulher com uma petição nas mãos percorreu a multidão presente a uma feira estadual, pedindo às pessoas que assinassem a petição que exigia o banimento do monóxido de dihidrogênio. Ela dizia que este estava em nossos lagos e rios, e agora já estava em nosso suor, urina e lágrimas.

Ela coletou centenas de assinaturas para banir o monóxido de dihidrogênio — um pomposo nome químico para a água [H2O].

Uma dupla de comediantes estava por trás dessa brincadeira. Mas não há nada de engraçado quanto às suas implicações. Na verdade, é um sinal amargo de nossos tempos.

Este pequeno episódio revelou o quão condicionados nos tornamos, reagindo feito cães de Pavlov quando ouvimos certos sons — neste caso, o som de alguma cruzada politicamente correta.

As pessoas nascem todas ignorantes, mas não nascem estúpidas. Muito da estupidez que vemos hoje é induzida por nosso sistema educacional, da escola fundamental às universidades. Numa era de alta tecnologia, que viu a criação da chamada inteligência artificial dos computadores, vemos também a criação da estupidez artificial por pessoas que se autodenominam educadores.

Instituições educacionais criadas para passar às futuras gerações o conhecimento, a experiência e a cultura das gerações que as precederam, transformaram-se em centros de doutrinação e promoção de quaisquer noções, modismos ou ideologias que estejam em voga entre a intelligentsia do momento.

Muitos conservadores têm protestado contra aspectos específicos daquilo que vem sendo doutrinado aos estudantes. Mas não é aí que reside o dano mais duradouro. Muitos, se não a maioria dos principais conservadores de nosso tempo foram esquerdistas na juventude. Entre eles estavam Milton Friedman, Ronald Reagan e todos os membros do movimento neoconservador.

As experiências da vida podem ajudar os indivíduos a superar qualquer coisa que lhes tenha sido incutida pela doutrinação. O que pode persistir, porém, é o hábito preguiçoso de ouvir um lado de uma questão e logo partir galvanizado para a ação sem ouvir o outro lado — e, mais fundamentalmente, sem ter desenvolvido as habilidades mentais que permitiriam a um indivíduo testar, sistematicamente, um conjunto de crenças face à outra.

Já foi o tempo em que a orgulhosa declaração de muitos educadores era esta: “Nós estamos aqui para ensiná-los a pensar, e não o quê pensar”. Mas hoje, um número grande demais de professores, em todos os níveis, está ensinando a seus alunos o quê pensar, a respeito de tudo, do “aquecimento global” à nova trindade “raça, classe e gênero sexual”.

Mesmo se todas as conclusões com as quais eles doutrinam seus alunos fossem 100% corretas, isso ainda não seria equipar os estudantes com as habilidades mentais para sopesar visões opostas por conta própria, a fim de que estivessem preparados para novas e imprevisíveis questões que surgirão no transcurso de suas vidas, depois de deixar as escolas e universidades.

Muitos dos “educadores” de hoje não apenas fornecem conclusões aos seus alunos, como promovem a ideia de que os estudantes deveriam lançar-se à ação em função dessas conclusões pré-empacotadas — em outras palavras, dar vazão aos seus sentimentos e sair a galope em cruzadas sem nem sequer ter o conhecimento do que foi dito por aqueles no outro lado da questão e muito menos a disciplina intelectual para saber como analisar argumentos opostos.

Quando vemos crianças de escola carregando cartazes de protesto em demonstrações, estamos vendo o tipo de pensamento grupal descuidado que leva adultos a assinar petições que não entendem, ou ainda pior, a seguir líderes que eles não compreendem, seja à Casa Branca, ao Kremlin ou a Jonestown [1] .

Um filósofo disse certa vez que o conhecimento mais importante é o conhecimento da própria ignorância. E é este conhecimento que um número inaceitável de escolas e universidades está deixando de passar aos nossos jovens.

É necessária certa quantidade de conhecimento para simplesmente entender a extensão da própria ignorância. Mas nossos “educadores” têm dado tarefas a crianças, que ainda não têm nem dez anos de idade, para escrever cartas ao Congresso ou ao presidente, declamando sobre assuntos que vão de armas nucleares à assistência médica.

Will Rogers [2] uma vez disse que a ignorância em si não era tão ruim quanto “todas as coisas que ‘sabemos’, mas que não são exatamente assim”. Todavia, nossos doutrinadores nas salas de aula estão fazendo com que os estudantes pensem que sabem depois de ouvir apenas um lado de uma questão. Isso é estupidez artificial.

Tradução: Henrique Dmyterko

Título original: Artificial Stupidity - Thomas Sowell

[1] NT: Infame assentamento estabelecido nas Guianas pelo Reverendo Jim Jones e os membros de seu culto "The People's Temple".

[2] NT: Will Rogers: um famoso comediante americano (1879-1935).

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