Por Jayme Copstein (*)
A imprensa brasileira não está dando a devida atenção ao princípio de incêndio na economia europeia e que pode se transformar em desastre de grandes proporções, maior até que o estouro dos “primes” norte-americanos. Ontem, foi a vez de Portugal alimentar o pessimismo do mercado financeiro, o rebaixamento dos seus títulos na avaliação dos risco procedida pela Agência Fitch.
Os portugueses têm a companhia da Grécia, Irlanda e Itália no quadro dos países cuja irresponsabilidade está agora pondo em risco a economia europeia. Os analistas acham que se impõem providências urgentes, não apenas em relação ao quarteto dos malcomportados, mas para sustar a crise que se desenha no horizonte mundial, com a recusa dos chineses e dos próprios europeus de aceitarem a desvalorização do dólar para permitir a recuperação da economia norte-americana. Sobre o que vem por aí, se nada for feito, é inútil qualquer exercício de profecia.
De qualquer maneira, o caso específico de Portugal tem valor didático para o Brasil, na demonstração de quanto é ilusória a aparência de prosperidade, mesmo atravessando uma década, semeada pela demagogia populista que só tem diante dos olhos as urnas das eleições mais próximas. Há bastante semelhança entre o que os correligionários de Mário Soares fizeram no poder e o que estão fazendo, aqui, os de Luiz Inácio Lula da Silva.
Apenas para citar dois exemplos, Portugal, um país daquele tamanhinho, com população praticamente igual à do Rio Grande do Sul, tem agora mais de 800 mil funcionários ativos e terá dificuldades para apurar a conta de seus aposentados. Nos anos 90, havia agenciadores procurando em todo o mundo, inclusive no Brasil, imigrantes portugueses pobres, com mais de 70 anos, para habilitá-los a generosas aposentadorias, mesmo que jamais tivessem contribuído com um vintém para a Previdência lusitana.
Os recursos saíram da montanha de dinheiro que o Tesouro português recebera da União Europeia. Em 2006, vinte anos depois dessas benemerências que correspondem aos esbanjamentos e à demagogia do Governo Lula no Brasil, Portugal chegou à estagnação equiparado ao Marrocos e ao Paquistão. Mário Soares, que ocupara a presidência durante dez anos, reeleito com 70% de aprovação do eleitorado, ao tentar retornar ao poder em 2006, não passou de meros 14,24% dos votos, desmoralizando-se em terceiro lugar.
Era o protesto tardio do eleitor português, indignado porque, afora algum dinheiro investido em rodovias, a parte mais suculenta tinha se evaporado em corrupção e demagogia. Houve escândalos pela roubalheira, as despesas públicas incharam a ponto de o déficit público ter chegado a 6,2% do PIB, mais que o dobro dos 3% permitidos pela União Europeia. É só fazer adaptação das bolsas isso, bolsas aquilo, mensaleiros, cuequeiros, panetoneiros para prever como será a indignação do eleitor brasileiro, quando desabar o castelo de cartas que Lula montou no Brasil
(*) O Autor, gaúcho de Rio Grande, é jornalista, com atividade em jornal e rádio desde 1943, com passagens pelos principais veículos de Porto Alegre.
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