Gastrô Belô
Em vez de ficar no Rio jogando biriba com outros velhinhos na Praça da Cruz Vermelha, onde nasci há 73 anos e lá vai pedrada, aceitei sem pensar duas vezes o convite para ir a Belo Horizonte, participar do júri de Comida di Buteco. Isso foi no sábado passado. É a cidade do mundo que tem mais botecos. Ouvi falar em 8 mil, mas acho exagero e – pra nós, cariocas – motivo de inveja atroz.
Enquanto no Rio as frotas de superbotecos, como os Belmontes e os Informais, vão tomando conta da cidade, os pés-sujos , principalmente na Zona Sul, estão indo a pique. O último a fechar foi o Cidade Invicta, quase na esquina da Visconde de Pirajá e Teixeira de Melo. Há mais de 40 anos eu dava uma meia trava ali para tomar chá de urubu com o retrato falado (Underberg com cafezinho), conforme diz a malandragem. Pois é, perdeu a invencibilidade; no seu lugar inauguraram, porca miséria, uma doceria.
Ambulância leva os jurados para ronda
“Bem – explicou Eulália Araújo, coordenadora do Comida di Buteco quando perguntei o que eu teria que fazer, enquanto jurado – o ônibus vai te apanhar no hotel e visitaremos 10 dos 31 bares escolhidos para concorrer”. “Hum – ponderei – em vez de ônibus não seria melhor uma ambulância?” E não é que descolaram uma? Dois atores faziam palhaçadas fingindo de enfermeiros.
Parte do percurso entre os bares fiz deitado na ambulância. Achei o máximo. A cerveja oficial foi Bohemia, que conheci quando ela era menina-moça. Só tinha no D´Ângelo,em Petrópolis. Nós, jurados, tínhamos que dar notas para a cerveja mais gelada, melhor atendimento e higiene. Mas o grande diferencial era a gastronomia de boteco, cada tira-gosto melhor e mais criativo que o outro. Cada boteco se esmera em criar novidades. Só de mau vou dar a pala de alguns dos acepipes. No Mr. Golo , lambuzei-me com o Swing de Boteco (mistura de carnes desfiadas: boi, porco, lingüiça e bacon com torrada). No Amigos e Antigos foi o Du Cará: (o peixe cará recheado, anéis de cebola e filé com molho de uva). No Aconchego da Floresta a pedida é pé no rabo (pé de porco com rabada). No Curin – que não concorreu – o omelete de macarrão foi demais. Agora chega, né, , que é covardia. Como diria a Kelly Key, baba, baby, baba. Pra não ficar só nos elogios, um reparo. Tirei um ponto de cada boteco que, em vez das cadeiras e mesinhas de madeira, preferia aquele horrendo mobiliário de plástico, com propaganda de cervejas. Em quiosque ainda vá lá, mas em bar, nunca!
A Saideira do festival vai ter ilustres convivas: a Toca do Chopp, de Brasília, o Bar dos Cornos, de São Paulo e o Bar do Chico, de Divinópolis, entre outros. Tô nessa!
Jaguar, Cartunista, humorista e boêmio, escreve às quartas no jornal O Dia
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