12 de maio de 2005

Ode ao velho Mestre Jaguar

CRÔNICA

Gastrô Belô

Em vez de ficar no Rio jogando biriba com outros velhinhos na Praça da Cruz Vermelha, onde nasci há 73 anos e lá vai pedrada, aceitei sem pensar duas vezes o convite para ir a Belo Horizonte, participar do júri de Comida di Buteco. Isso foi no sábado passado. É a cidade do mundo que tem mais botecos. Ouvi falar em 8 mil, mas acho exagero e – pra nós, cariocas – motivo de inveja atroz.
Enquanto no Rio as frotas de superbotecos, como os Belmontes e os Informais, vão tomando conta da cidade, os pés-sujos , principalmente na Zona Sul, estão indo a pique. O último a fechar foi o Cidade Invicta, quase na esquina da Visconde de Pirajá e Teixeira de Melo. Há mais de 40 anos eu dava uma meia trava ali para tomar chá de urubu com o retrato falado (Underberg com cafezinho), conforme diz a malandragem. Pois é, perdeu a invencibilidade; no seu lugar inauguraram, porca miséria, uma doceria.

Ambulância leva os jurados para ronda

“Bem – explicou Eulália Araújo, coordenadora do Comida di Buteco quando perguntei o que eu teria que fazer, enquanto jurado – o ônibus vai te apanhar no hotel e visitaremos 10 dos 31 bares escolhidos para concorrer”. “Hum – ponderei – em vez de ônibus não seria melhor uma ambulância?” E não é que descolaram uma? Dois atores faziam palhaçadas fingindo de enfermeiros.
Parte do percurso entre os bares fiz deitado na ambulância. Achei o máximo. A cerveja oficial foi Bohemia, que conheci quando ela era menina-moça. Só tinha no D´Ângelo,em Petrópolis. Nós, jurados, tínhamos que dar notas para a cerveja mais gelada, melhor atendimento e higiene. Mas o grande diferencial era a gastronomia de boteco, cada tira-gosto melhor e mais criativo que o outro. Cada boteco se esmera em criar novidades. Só de mau vou dar a pala de alguns dos acepipes. No Mr. Golo , lambuzei-me com o Swing de Boteco (mistura de carnes desfiadas: boi, porco, lingüiça e bacon com torrada). No Amigos e Antigos foi o Du Cará: (o peixe cará recheado, anéis de cebola e filé com molho de uva). No Aconchego da Floresta a pedida é pé no rabo (pé de porco com rabada). No Curin – que não concorreu – o omelete de macarrão foi demais. Agora chega, né, , que é covardia. Como diria a Kelly Key, baba, baby, baba. Pra não ficar só nos elogios, um reparo. Tirei um ponto de cada boteco que, em vez das cadeiras e mesinhas de madeira, preferia aquele horrendo mobiliário de plástico, com propaganda de cervejas. Em quiosque ainda vá lá, mas em bar, nunca!
A Saideira do festival vai ter ilustres convivas: a Toca do Chopp, de Brasília, o Bar dos Cornos, de São Paulo e o Bar do Chico, de Divinópolis, entre outros. Tô nessa!

Jaguar, Cartunista, humorista e boêmio, escreve às quartas no jornal O Dia

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