4 de maio de 2005

Pé-Sujo

O Ver-o-Peso é aqui
ANDIROBA, COPAÍBA, cupuaçu, juruá. Tucupi, tambaqui, surubim, tucunaré. E tacacá. Parece até um poema tropicalista. Mas as sonoras palavras, caro leitor, fazem parte do vasto cardápio do Arataca, um boteco-armazém carioca que explora como ninguém as riquezas vocabulares, gastronômicas e culturais do Norte do Brasil, aquela região onde os cheiros indígenas e os sabores portugueses parecem falar a mesma língua desde os tempos da colonização.
A pequena casa especializada em produtos paraenses — que tem uma irmã mais nova na Cobal do Leblon — funciona há mais de 40 anos em Copacabana. Apesar da dedicação nortista, o lugar é um instantâneo do Brasil: afinal, é o mineiro Acir quem comanda com destreza uma equipe de simpáticas garçonetes cearenses, especializadas em agradar clientes de todas as naturalidades do país.
No balcão de bancos sem encosto, as moças servem para todo tipo de freguês. Do paraense saudoso do pato no tucupi (R$ 28) ao carioca curioso pelo pirarucu seco, também conhecido como bacalhau brasileiro, lá vendido em deliciosos bolinhos (R$ 12, a porção), iguaria que rivaliza com a famosa casquinha de caranguejo (R$ 7) da casa.
Mais que um bom boteco, o Arataca é um oásis para fãs da cultura amazônica. Gente que não vive sem uma vela de andiroba para espantar os mosquitos no verão. Que sabe como o óleo de copaíba é santo remédio para inflamações. E que só usa os sabonetes Juruá, aqueles feitos com banha de tartaruga. Está tudo lá, em prateleiras improvisadas mas que fazem do lugar uma legítima filial do mercado Ver-o-Peso, de Belém.
Arataca: Rua Domigos Ferreira 41, Copacabana —- 2548-6624. Diariamente, das 9h às 22h.

Juarez Becoza
Publicada no Caderno Rio Show de O Globo, 29/04/2005.

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