“Ao abrir o leque de investigações de maneira indiscriminada, sem distinguir indícios concretos da pura boataria ou do terrorismo, nem possíveis suspeitos de prováveis injustiçados, a CPI atemorizou a maioria do Congresso e das forças políticas”.
“Esse medo de que o processo de caça às bruxas alcance o Congresso como um todo se choca com a força da opinião pública e provocou o emparedamento da CPI...”
“(...) É inadmissível, por exemplo, que a mera menção do nome de um político (...) leve à conclusão de que o parlamentar é desonesto”.
Estes trechos retirei de uma matéria publicada pela revista VEJA em sua edição de 15 de dezembro de 1993, sobre a CPI dos Anões do Orçamento, que por semelhança histórica, servem como uma luva, doze anos depois, à composição de um texto novo para tratar da CPMI dos Correios.
Quem se der ao trabalho de buscar os anais da imprensa e do próprio Congresso Nacional, vai verificar que a CPI dos Anões decepcionou, porque provocou uma sensação de dever cumprido pela metade, apesar de ter sugerido e alcançado a cassação de um elevado número de mandatos e de ter contado com o trabalho árduo e sem dúvida alguma honesto de pessoas acima de qualquer suspeita, como o são o senador Jarbas Passarinho e o deputado Roberto Magalhães.
As coincidências entre a CPI dos Anões e a CPMI dos Correios são muitas. Naqueles tempos também houve quem renunciasse para fugir à cassação e à inelegibilidade, assim como surgiram, entre os culpados, nomes que, por sua expressão política, causaram surpresa.
Os jornalistas Gustavo Krieger, Fernando Rodrigues e Elvis César Bonassa, ao final da CPI dos Anões, produziram um livro que por seu título já diz do seu sentimento: “Os Donos do Congresso – A Farsa na CPI do Orçamento.”
Na semana passada, causei frisson e rebuliço, quando, logo no início dos trabalhos da CPMI dos Correios, numa calma sessão administrativa, falei de uma “pizza” patrocinada pelo PT, pelo PSDB e pelo PFL.
Por que o frisson? Porque, alguns entenderam a minha reclamação como denúncia, quando, na verdade ainda é um alerta, como alertas foram as matérias publicadas em 1993, até se transformarem em denúncia, após a leitura do relatório final da CPI dos Anões.
Ora, a CPI dos Anões frustrou a sociedade por decisão de seu presidente, do seu relator ou dos que trabalharam até chegar ao ponto do extremo cansaço? A resposta é não! Definitivamente, não!
Ora, podemos duvidar dos compromissos de alguém como Jarbas Passarinho ou Roberto Magalhães, presidente e relator da CPI dos Anões? Da mesma maneira e pelos mesmos motivos éticos, a ninguém é dado o direito de duvidar da lisura do senador Delcídio Amaral, do deputado Osmar Serraglio ou dos membros da CPMI, sejam eles de que partido forem.
Então, de onde as ruas e a mídia retiram motivo para desconfiança?
Da experiência com um passado de expectativas frustradas, que, doze anos depois, terminaram por sugerir a constituição da CPMI dos Correios. O que não se resolveu lá terminou por bater aqui.
Há riscos de nova frustração? Há sim. E, de onde vem o risco? Da falta de cuidado com o trabalho ou de uma maquiavélica intenção de proteger colegas ou companheiros? Rigorosamente, não!
O risco está na disputa partidária, cada vez mais acirrada, que transforma os depoimentos e a votação dos requerimentos em espetáculos de péssimo gosto, de resultado pequeno e em guerra campal. Exemplo? Vamos lá. Para convocar o Dirceu, do PT, quer o PT, a convocação do Azeredo, do PSDB e, para falar dos dois, há que se preservar o Brant do PFL, que no dizer dos seus pares, é gente de bem. A quebra dos sigilos de uns, dependem da quebra dos sigilos de outros e assim por diante. Ao fim da história ficamos a ouvir depoimentos vazios e a andar em círculo.
A continuar assim, nenhuma boa vontade, amor ao trabalho, cansaço ou retórica será capaz de vencer o tempo e evitar que cheguemos ao fim do prazo, com prorrogação inteira, sem ter encontrado os que financiaram, pela compra de consciências, de mandatos eletivos e de decisões legislativas, um projeto de poder, que não tem vinculo algum com os interesses da sociedade brasileira.
Se, a eles não chegarmos, de pouco adiantará, perante a história e a sociedade, cassar 10,15 ou 18 mandatos.
Artigo de 10/08/2005 escrito pela Deputada Denise Frossard (www.denisefrossard.com.br)
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