Originário da Ásia e encontrado em mais de 800 variedades, com formas, texturas, cores e tamanhos distintos, o caqui conquistou o Ocidente
Originário da China, o caqui integra há milênios a dieta dos povos da Ásia onde é chamado de kaki. Sua polpa gelatinosa é saboreada in natura na alta temporada, mas fora da estação o caqui se transforma em geléia ou passa, apreciadíssimas pelos orientais. Não foi por acaso que os imigrantes japoneses iniciaram seu cultivo no Brasil. As crianças nipônicas se fascinam pela fruta logo cedo porque o folclore sobre a origem "mágica" do caquizeiro faz parte das histórias infantis tradicionais no país. A lenda, descrita em O Livro das Frutas, de Jane Grigson (Companhia das Letras, São Paulo,1999), envolve um grande líder samurai do século XII, Yoshitsune. Com astúcia, ele derrotou o gigante Benkei num único golpe. O samurai "não era maior que uma bota", porém tinha a valentia de um tigre e desferiu um golpe certeiro que fez o gigante cair no chão, abrindo um grande buraco. Ouviu-se enorme estrondo e da fenda surgiu uma árvore alta, repleta de frutas vermelho-alaranjadas e suculentas. O samurai e o gigante saborearam, juntos, o caqui e se tornaram amigos inseparáveis.
O caqui foi celebrado em versos por inúmeros poetas japoneses, mas, entre todos eles, quem realmente ganhou fama como o "grande poeta do caqui" foi Shiki Masaoka, que viveu entre 1867 e 1902. Mestre dos poemas de estilo haiku, sempre curtíssimos, ele recebia milhares de versos para apreciação. Generoso e paciente, passava horas a fio às voltas com as criações alheias. Fazia questão de ler todos, mas se outorgava uma compensação: a cada 3 000 poemas lidos, saboreava dois caquis. Shiki gostava tanto da fruta que a colocou no epitáfio escrito para o próprio túmulo, em estilo haiku: "Descreva-me/Como alguém que adorava poesia/E caquis". A fruta faz parte também da tradição casamenteira nipônica. Os noivos oferecem aos convidados docinhos feitos com ela, em sinal de amizade e de retribuição aos presentes recebidos. O ritual se repete há séculos. Na China, os confeitos de caqui integram o cardápio milenar do banquete do chá - são oferecidos na primeira parte do serviço. A fruta não pode faltar à mesa chinesa de Ano-Novo.
Além de se difundir no Oriente, o caqui, cujo nome científico é Diospyros kaki, espalhou-se pelo Ocidente. Atualmente, pode ser encontrado nos quatro continentes com grande variação de formatos, tons que vão do amarelo ao vermelho, e tamanhos distintos. É rico em vitamina C e em betacaroteno. A pele finíssima encobre a polpa alaranjada, que quando bem madura se assemelha muito à geléia. Pode ser doce ou adstringente, devido à forte presença de taninos, porém uma boa parte deles é absorvida durante o processo de maturação, conforme destaca Alan Davidson, em The Oxford Companion to Food (Oxford University Press,1999). Algumas variedades são de tal forma tânicas que a fruta precisa passar por um processo de tratamento até se adequar ao paladar humano.
Apenas no Japão, há registro de mais de 800 variedades. Em Israel se cultiva um tipo de caqui bastante popular chamado de sharon fruit. Na Espanha, a fruta tem até denominação de origem, na Ribera del Xúquer, perto de Valença. No Brasil, são três os grupos cultivados. O sibugaki, taninoso, de coloração amarelada com ou sem sementes, inclui as variedades taubaté, hachiya e trakoukali, entre outras. O amagaki, caqui doce de polpa firme, sempre amarelado e jamais adstringente, pode ter ou não sementes. Os principais são jiro, tuyu e hannagosho. E os variáveis, categoria que inclui os adstringentes com sementes e os não-adstringentes, sem (ou com pouquíssimas) sementes. A cor difere. São amarelados quando desprovidos de sementes; e escuros, com sementes. Os tipos mais importantes são chocolate, rama forte, guiombo, Luiz de Queiroz e hyakume.
Versátil na cozinha, o caqui se sai bem entre doces ou salgados e, por isso, tornou-se ingrediente indispensável em grande quantidade de pratos, no Oriente e Ocidente. Um dos mais brilhantes exemplos de preparo de caqui já provados por Gula são os delicados chips feitos pela nipo-brasileira Mari Hirata. A chef corta a fruta em fatias finíssimas, com a ajuda de uma mandoline, recobre com açúcar impalpável e leva ao forno baixíssimo para assá-las lentamente. Depois de prontos, os chips são armazenados e usados para acompanhar sorvetes, decorar sobremesas ou até ser saboreados puros. Não há limites para a utilização da fruta. Ela se presta à elaboração de mousses, sorbets, caldas, geléias, mas dá bom chutney, fica interessantíssima na forma de tempura e estrela o purê agridoce capaz de escoltar com distinção o peito de pato.
Os meses de março, abril e junho marcam a alta temporada do caqui no Brasil, o que coloca a fruta entre os ingredientes ideais para a composição de receitas nessa época do ano, quando está fresca, saborosa e pode ser encontrada a bom preço. Na hora de escolher o caqui, basta lembrar de um conhecido dito popular: as aparências enganam. A fruta alcança a forma ideal para ser apreciada quando a pele, translúcida, começa a ganhar manchas amarronzadas, a textura se torna mole e a fragilidade evidente. Tais características, comprometedoras para qualquer outra fruta, são justamente o atestado de que o caqui está em sua melhor forma.
Por: Patrícia Ferraz
Fotos: Codo Melletti
Adoro caqui, eu e todos aqui de casa. Nosso consumo chega a ser preocupante, trata-se de uma fruta suculenta, doce e saborosissima, mas sou suspeito de falar.
Um conselho para quem não conhece:
Junto com o mangustão, quem não comeu ainda não pode morrer!
3 comentários:
Nossa, mãe!
caqui é bão dimais, sô!
Lá na roça tem pra dá inveja.
E nóis como é pra fartá!
abraço,
seu amigo Kafé.
Luiz, bom dia.
Eu também adoro caqui e chego a comer três por dia (rsssss). Agora, por favor, o que seria mangustão?
Beijos
E estamos na época do caqui - o outono. Aliás outras delícias também estão aí, dentre elas a tangerina (ou mexerica, ou pocã, ou bergamota) e o abacate.
Adoro todas!
Abração!
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