12 de julho de 2006

Pão, circo e o patriotismo da bola

“Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar”
Darcy Ribeiro


Só se fala nisso. Os jornais impressos lançam cadernos exclusivos. Os noticiários no rádio e na televisão dedicam blocos inteiros para abordar o assunto. Surgem programas de debates de todos os tipos. De comentaristas esportivos a ex-atletas, passando por atores e atrizes, músicos e colunáveis, todos parecem dotados de uma licença poética para opinar sobre resultados, lances e escalações. Fazem prognósticos como se fossem cientistas, criticam como se pudessem nortear decisões.
As cidades ganham um colorido em verde e amarelo. Bandeiras tremulam nas sacadas dos edifícios, nas janelas dos veículos, nas mãos dos pedestres. As ruas ficam desertas durante os jogos, o comércio fecha, a indústria pára.
Enquanto isso, projetos deixam de ser votados no congresso; empresas adiam investimentos; escândalos políticos são engavetados pela memória.
Há pouco mais de 20 anos, precisamente em janeiro de 1984, uma campanha pelas eleições diretas para presidente da República reuniu 300 mil pessoas no centro de São Paulo. E em agosto de 1992, foi a vez da manifestação popular pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello reunir mais de 500 mil pessoas em 17 cidades.
Antes destes eventos, podemos mencionar, na década de 60, 1968, o “ano que não terminou”. E a abertura política celebrada pela lei da anistia aos cassados pelo regime militar, decretada em agosto de 1979. Mobilizações de caráter cívico parecem ocorrer neste País em ciclos de dez anos. Estamos atrasados...
A pátria de chuteiras hasteia suas bandeiras apenas a cada quatro anos por pacotes de alegria de 90 minutos. Em torno da bola, mostra uma capacidade ímpar de união e civismo. Quisera eu ver igual demonstração de organização por outras causas. Pela educação, pela saúde, pelo controle dos gastos públicos, pela redução da carga tributária, pela segurança, pela redução das desigualdades sociais, pela ética na política.
Em vez disso, optamos por enaltecer atletas que, salvo exceções, esqueceram o significado da palavra humildade. Fazemos apostas e comentários que não levam a nada. Discutimos sobre as decisões equivocadas de um treinador que age exatamente como a maioria dos líderes de nossas empresas, desperdiçando talentos em defesa de sua inflexibilidade.
Com telas e telões como coliseus e jogadores como gladiadores, temos nosso devotado circo. Com o bolsa-família, o aumento do salário mínimo e a correção da tabela do imposto de renda temos nosso pão. Descalços, desdentados, descamisados, mas brevemente felizes.
Imperadores da Roma Antiga devem estar orgulhosos de seu legado milenar.


Tom Coelho tem graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP. É colunista do Empregos.com.br, empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp.
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Outubro está chegando.
Vamos nos engajar em fazer nosso Brasil melhor, tudo ficará melhor.
Só depende de nós, de ajudarmos nosso povo a compreender o significado de uma sociedade melhor para todos.

2 comentários:

Alexandre, The Great disse...

Luiz Carlos.

Tal como sugere o texto; para tanto deveremos encarnar os próprios gladiadores da Roma antiga e, na arena do Coliseum, enfrentarmos os "leões" que nos ameaçam.

E o Botafogo conseguiu empatar no último minuto...

Anônimo disse...

Excellent, love it!
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