4 de janeiro de 2006

Helio Pellegrino

Mensagens a Fernando Sabino
Hélio Pellegrino

Na juventude, já grande amigo do escritor Fernando Sabino, Hélio Pellegrino lhe escreveu a seguinte mensagem:
"O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo em sua liberrérima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece seu nome.
"Muitos anos depois, quando completava 60 anos, Hélio reformulou o que havia escrito para Sabino, com muito humor:
"Quando você faz 20 anos está de manhã olhando o sol do meio dia. Aos 60 são seis e meia da tarde e você olha a boca da noite. Mas a noite também tem seus direitos. Esses 60 anos valeram a pena. Investi na amizade, no capital erótico, e não me arrependo. A salvação está em você se dar, se aplicar aos outros. A única coisa não perdoável é não fazer. É preciso vencer esse encaramujamento narcísico, essa tendência à uteração, ao suicídio. Ser curioso. Você só se conhece conhecendo o mundo. Somos um fio nesse imenso tapete cósmico. Mas haja saco!"

Os textos acima foram extraídos do livro "Hélio Pellegrino - A paixão indignada", da coleção "Perfis do Rio", Relume-Dumará / Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1998, pág. 11 e seguintes.

1924 - Hélio Pellegrino nasce em Belo Horizonte (MG) no dia 05 de janeiro, filho de Braz Pellegrino, médico ilustre, e Assunta Magaldi Pellegrino, nascida no Sul da Itália.

1988 - Na madrugada de 23 de março, morre Hélio Pellegrino, vítima do coração. "Nunca vi tanta mulher bonita", escreveu Rubem Braga, impressionado com a enorme quantidade de mulheres chorando, algumas quase desfiguradas, outras ocultas por grandes óculos escuros, entre as mais de 500 pessoas que foram ao cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Conclui o "velho" Braga: "Eu gostaria de conversar sobre isso e outras questões de amor com uma pessoa, ao mesmo tempo imaginosa e lúcida, mas esta pessoa estava metida num caixão em uma capela onde sequer cheguei a entrar, e se chamava Hélio Pellegrino".

2004 - A editora Bem-Te-Vi publica “Arquivinho de Hélio Pellegrino". Sai, pela editora Planeta, “Lucidez Embriagada”, organização de Antônia Pellegrino, neta do autor.
Foi pensando na morte de Hélio que a escritora Lya Luft escreveu esses versos, logo após sua morte. Segundo ela, para reviver um grande amor entre dois pássaros "varados em pleno vôo".(...)
V
Insensato eu estar aqui, e viva.
O rosto dele me contempla
vincado e triste no retrato sobre minha mesa;
em outros, sorri para mim, apaixonado e feliz.
Insensato, isso de sobreviver:
mas cá estou, na aparência inteira.
Vou à janela esperando que ele apareça
e me acene com aquele seu gesto largo e generoso,
que ao acordar esteja ao meu lado
e que ao telefone seja sempre a sua voz.
Sei e não sei que tudo isso é impossível,
que a morte é um abismo sem pontes
(ao menos por algum tempo).
Sobrevivo, mas pela insensatez.
(...)
("O lado fatal", Editora Siciliano - São Paulo, 1988).

A biografia completa do Helio Pellegrino pode ser lida em:

4 comentários:

Anônimo disse...

Luiz, que maravilha!
Adoro o Pellegrino. Você me deu uma ótima idéia, vou comprar esse livro. Não tenho nenhum dele.
Obrigada.
Beijos

Anônimo disse...

Voltei para dizer que enviei o post para o meu grupo de poemas.
Por falar nisso, já visitou meu site? (chique, não acha?)
Dê uma olhadinha lá:
www.casadoescritor.com
Obrigada
beijos

Anônimo disse...

Luiz, boa noite, eu novamente!!!
Acredita que não estou achando o livro aqui em Goiânia? Já procurei na saraiva, na Siciliano e na Cultura Goiana, as maiores daqui e nada.
Ah! como diria uma amiga: isso que dá morar na roça.

Beijos

Anônimo disse...

best regards, nice info mitsubishi montero sports bull bar Free buff pornstars cock