19 de janeiro de 2006

E o carioca está matando... o Rio

Assédio de taxistas irregulares e ambulantes provoca blitz da Alerj no cartão-postal do Rio
Mariana Filgueiras

Para reprimir o assédio agressivo de guias, ambulantes e taxistas aos turistas que visitam o monumento do Cristo Redentor, uma força-tarefa foi montada ontem pela Secretaria Estadual de Turismo no Mirante Dona Marta e na subida do Cosme Velho. A blitz começou às 8h30 e durou até as 14h, com o apoio de 20 policiais do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur) e da Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat). A cooperativa de táxi Corcovado Car Service e quatro agências de viagens cadastradas no Ministério do Turismo foram autuadas por cobrar serviços extras, funcionar sem guias legalizados e pelos valor abusivo dos preços.
Menos de uma hora depois do término da operação, no entanto, a bandalha já estava reestruturada: motoristas nem esperavam os visitantes chegarem à Estação de Trem do Corcovado para oferecer os serviços. Camelôs penduravam os badulaques em verde e amarelo nos turistas, que fugiam assustados. Guias-mirins não cadastrados pela prefeitura se amontoavam entre os legalizados para cercar os visitantes, cobrando até R$ 65 pelas informações.
Os policiais que participaram da blitz revelaram o esquema: os próprios rapazes danificam as placas de sinalização para que os turistas tirem as dúvidas com eles.
- O pior é que muitos taxistas cobram um preço aqui embaixo e lá em cima dizem que é outro. Se o turista não quiser pagar, os motoristas deixam eles lá. Alguns cobram taxas pelo uso do elevador e da escada rolante, que não custam nada - contou uma das funcionárias do Trem do Corcovado, que preferiu não se identificar.
Um passeio de meia hora até o Cristo chegava a custar R$ 80 por pessoa, mais do que o dobro do valor do ingresso do trem, R$ 36. Um mapa do Brasil, encontrado em bancas de jornais por R$ 3, não sai por menos de R$ 25 nas mãos de um ambulante - ''aproveita que no Pão de Açúcar eu cobro R$ 40'' - gritava o camelô.
Alertado pela agência de viagens sobre os possíveis achaques, o aposentado inglês Anthony Bowermein preferiu voltar do Corcovado até o hotel onde estava, em Copacabana, de ônibus e não de táxi.
- Alguns comerciantes abusam da simpatia e dos preços - lamentou o turista.
O presidente da Comissão de Turismo da Alerj, deputado estadual Glauco Lopes (PSB) reclama o descaso com o setor turístico, responsável pela movimentação de quase R$ 1 bilhão de reais na alta temporada.
- Irregularidades existem há muito tempo, mas o poder público não combate a desordem. O turista que vem ao Rio é surpreendido com táxis piratas, flanelinhas, ambulantes que assediam os turistas e preços abusivos de estacionamento.
O secretário estadual de Turismo, Sérgio Ricardo de Almeida, acompanhou a blitz e, embora tenha afirmado que não será um paliativo, admitiu que não há como realizá-la por 24 horas.
- É assim mesmo, quem faz bandalha fica esperando a nossa saída, mas a fiscalização continua até o carnaval.

Cristo fica mal na foto
Depois da recepção agressiva na base do Corcovado, o turista tem outra decepção quando chega ao topo do monumento mais famoso da cidade - um tapume encobre todo o pedestal do Cristo Redentor. No auge da alta temporada, quando o Rio recebe pelo menos 15 mil turistas por dia, segundo cálculos da Secretaria Municipal de Turismo, o visitante é obrigado a descer vários lances de escadas para que as telas que escondem o trabalho não apareçam nas fotografias.
Realizadas por parcerias entre empresas privadas, as obras de restauração do pedestal e da capela deveriam ter terminado em novembro, mas o prazo foi estendido para a última terça-feira. A reforma já se arrasta há mais de um ano. Os pedreiros garantem que até o carnaval não há como finalizar o projeto - ''ainda estamos trabalhando no tijolo'' - diz um deles, de dentro da capela.
- Choveu muito no fim do ano, e isso atrasou o andamento das obras. Além disso, ampliamos o projeto de recuperação da capela - explica o diretor do Trem do Corcovado, Sávio Neves, umas das empresas responsáveis pelo financiamento das obras.
A família de turistas japoneses Tsuo - pai, mãe, dois filhos e sobrinha - tentava entender porque o pedestal estava encoberto.
- Não há nenhuma explicação aqui, se o Cristo está danificado ou se a obra oferece riscos - reclamava o pai, o administrador de empresas Tamiko Tsuo.
A primeira reforma no Cristo aconteceu em 1990 - 59 anos após a inauguração -, quando foram encontrados mais de 200 pontos com rachaduras. Outra reforma, preventiva, foi realizada em abril de 2000, mas na base nada foi feito. No início de 2004, a conseqüência: uma das placas de granito preto da base despencou.
Copiado do Jornal do Brasil

Um comentário:

Anônimo disse...

Luiz, boa tarde.
Mas que absurdo! Esse país nunca terá jeito?