10 de dezembro de 2005

A BOEMIA DA NOVA MAUÁ

Kadu di Calafiori

Aberto há 10 meses, o Trapiche da Gamboa é sucesso absoluto nas noites da Sacadura Cabral

A histórica noite da zona portuária revive tempos de glória com muita música em um clima arejado pela brisa da baía

Marinheiros gregos e filipinos continuam a procurar mulheres na Scandinavia e no Bar Cadeirinhas. Mas, de uns tempos pra cá, são os navegantes cariocas em busca de boa música e autenticidade cultural que aportam nas noites da Praça Mauá. Somente neste fim de semana, mais de três mil pessoas devem ir à região atraídas por eventos que desfazem a fama de um lugar inóspito freqüentado apenas por marujos bêbados e desregrados.

O maior responsável por esse renascimento é o Escravos da Mauá, bloco fundado há 12 anos por um grupo de colegas do Instituto Nacional de Tecnologia. Limitava-se inicialmente a fazer desfiles na quinta-feira antes do Carnaval. Mas, a partir de 1998, passou a promover, uma vez por mês, rodas de samba em clima de quermesse no Largo de São Francisco da Prainha, charmoso recanto aos pés do Morro da Conceição. Mesmo com o caráter restrito da divulgação (feita por mala-direta apenas para freqüentadores mais assíduos), os encontros crescem a cada ano. Hoje, atraem em média duas mil pessoas de todas as idades, que se deleitam com o bom samba e as comidinhas vendidas na pracinha. "É um clima afetuoso. Acho que este é nosso maior patrimônio", diz Eliane Costa, cavaquinista e uma das fundadoras do bloco.

A poucos metros dali, em pontos opostos da Sacadura Cabral, outras duas casas confirmam a nova fase da noite da região: o Trapiche Gamboa, perto da Barão de Tefé, e o Cabaret Kalesa, já chegando à Praça Mauá. O Trapiche foi inaugurado no fim do ano passado, em um antigo armazém do século 19. Com rodas de samba e choro de terças a sábados, a casa chega a receber 450 pessoas às sextas-feiras, dia em que o som é comandado por Eduardo Galotti. O público, na maioria, tem mais de 30 anos. O editor de imagens Mauro Adamcsyk escolheu o lugar para comemorar seus 40 anos. "Adorei o clima e a música daqui", contou.

Após sete anos fechado, o Cabaret Kalesa foi reaberto em novembro. O nome, reminiscência da antiga Praça Mauá, significa carruagem, em filipino – língua de muitos fregueses do meretrício local. Apesar das referências, a casa hoje em dia nada tem a ver com as boates vizinhas e o destaque da programação acontece nas noites de sábado, quando o DJ Marcelo Janot assume a pista e, lá pelas tantas, uma stripper sobe ao palco. Com 16 anos de estrada, a stripper Carolina fica emocionada com a vibração do público da zona portuária. "Nunca fui tão exaltada na vida", comentou. Um bem dos novos tempos na Praça Mauá. – DIOGO DE HOLLANDA

Inferninhos em baixa

Enquanto novos eventos se firmam e provocam a renovação da Praça Mauá, antigos símbolos da região estão em decadência. Nos últimos 10 anos, das oito boates que funcionavam na praça, apenas duas sobreviveram: a Scandinavia e a Flórida, sendo que a última, para atrair o público brasileiro, decidiu transformar-se em termas – situação em que as meretrizes deixam de ser "mão-de-obra flutuante" e passam a fazer parte do "staff" do estabelecimento. O número de motéis caiu de quatro para um. Ontem à noite, uma superoferta de prostitutas cercava os filipinos que bebiam no Bar Cadeirinhas, ao lado da Polícia Federal. No Scandinavia, apenas os garçons e outros funcionários observavam as moças que dançavam no "queijo".

"Infelizmente, a Praça Mauá morreu", suspirou o dono da Scandinavia, Welinton Fonteneli. Ele atribui o marasmo ao declínio do Porto do Rio, preterido nos últimos anos pelo de Santos e hoje considerado um dos mais caros locais de atracagem do mundo. (D.H.)

O Rio que não dorme

Se uma vez por mês é muito pouco, os freqüentadores dos Escravos da Mauá têm um consolo neste fim de semana. Além do encontro de sexta-feira, a partir das 19h no Largo de São Francisco da Prainha, o bloco tocará amanhã, a partir das 20h, em um local histórico e pouco conhecido dos cariocas: o Morro da Conceição, onde desde ontem ocorre a festa em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. Os interessados podem subir a pé pela Pedra do Sal (no fim da Rua Jogo da Bola) ou pelo adro da Igreja de S. Francisco da Prainha, na Sacadura Cabral. De carro, o acesso é pela Rua Major Daemon.

O Trapiche Gamboa tem nesta sexta roda de samba comandada por Eduardo Galotti. A casa abre às 18h30 e o show começa às 22h30, sem hora para acabar. Amanhã é a vez do grupo Galocantô. A abertura é um pouco mais tarde (às 20h30), mas o show começa no mesmo horário. O Trapiche fica na Rua Sacadura Cabral 155. O telefone é 2516-0868.

No Cabaret Kalesa, as atrações desta sexta são o grupo de samba Batifundo e o DJ Zé Octávio. Amanhã, é a vez do DJ Janot, com striptease feminino e, pela primeira vez, masculino. O Cabaret Kalesa fica na Rua Sacadura Cabral 61. O telefone é 2516-8332.

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