Natal: dia normal no Lixão de Babi
Cestas do Natal Sem Fome não fazem a festa de quem vive no lixo, entre porcos e urubus
O odor, a sujeira e milhares de moscas ao redor não impedem que a dona de casa Maria Luiza Marques deixe as sandálias na porta, antes de entrar em seu barraco de madeira. O espaço tem pouco mais de quatro metros quadrados e o chão de barro limpo, em contraste com as toneladas de lixo produzidas pela população de Belford Roxo e jogadas à sua porta diariamente. Amanhã, Maria Luiza e sua família irão receber uma das cestas doadas pela campanha Natal Sem Fome. A chegada da comida é bem-vinda, mas não representa festa. "O Natal pra mim vai ser como um dia qualquer", resume, sem emoção.
Localizado em Belford Roxo, o Lixão Babi, onde Maria Luiza vive há cinco anos, é considerado o pior bolsão de miséria entre as comunidades atendidas pelo Natal Sem Fome no Rio. Com cinco filhos e o marido desempregado, Maria – que aparenta bem mais que seus 35 anos – sobrevive do que arrecada nos rejeitos. "Quando vem um pãozinho embalado e eu vejo que não está estragado, dou para as crianças", diz.
A situação é a mesma para as demais 30 famílias que moram ali e disputam com outros catadores garrafas, latas e papelão, vendidos para reciclagem. Solange da Silva Izidoro, 50, mudou-se para lá há 10 anos. Com sete filhos e grávida do oitavo, arrecada cerca de R$ 50 por semana, renda completada com o salário de motorista do marido. "A gente se mudou para cá porque não tinha como pagar aluguel. Aqui a gente também não paga água nem luz", explica.
Solange não se lembra em quem votou nas últimas eleições para presidente. Questionada se foi ou não no presidente Lula, diz: "Acho que talvez tenha sido nesse aí. Mas até agora acho que não mudou muita coisa, não é?".
O contato direto com o lixo e bichos como porcos e urubus, além das moscas, reflete-se na pele das crianças e das mães, cobertas por micoses e feridas. "Isso é normal, não é nada demais, não. O importante é que as crianças têm saúde", diz Solange, uma das moradoras que consegue manter os filhos na escola.
A costureira Mônica Valéria Barata, 38, é uma das voluntárias que se mobilizam anualmente para juntar as cestas na ONG Ação da Cidadania e levá-las para os moradores do lixão. "O problema é que nunca é suficiente. Eu dou prioridade aos que moram aqui. Quando acaba, as pessoas choram, mostram os filhos com fome. A gente se sente um nada", lamenta. Amanhã ela e a tia distribuirão insuficientes 160 cestas no lixão. Ao contrário do que se poderia esperar, a notícia da entrega não gera reações entusiasmadas. "Natal não é nada demais. O importante é que minha família vai ter o que comer", diz Marinete Ferreira, 60.
2 comentários:
- Soube?
- Do quê?
- Obrigado pela visita!
- É!
- Que todos os bons sentimentos
estejam com você neste Natal,
e no Ano Novo que se aproxima.
- É!
- Boas festas!
- É!
Luiz, que tristeza! Fiquei péssima vendo isso, essas fotos horríveis, essas crianças, esses mosquitos.
E opior é saber que não há uma política governamental sequer voltada para essa população do lixo. Isso é uma vergonha para o país.
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