17 de março de 2006

Brasileiro, profissão: esperança

Antônio Maria - quem diria, era exatamente o oposto do que sugerem suas canções de dor-de-cotovelo. Brincalhão, casado e feliz com a família que possuía. Nasceu em Recife, PE, em 17 de março de 1921
Cronista, jornalista, radialista esportivo, Antônio Maria fez de tudo - e fez da alegria sua vida. Apaixonado pela boemia, virava noites rindo e brincando com Vinícius de Moraes, com Ismael Neto, com quem quisesse achar o prazer da vida.
Um de seus passeios favoritos era ir de Rio para São Paulo, de onde tirava sua inspiração. E para este percurso, compôs, com Vinícius, Dobrado de amor a São Paulo.
Quando ficou doente (um enfarte), o médico lhe tirou tudo o que gostava: a costela, a feijoada. Seguiu adiante com bom humor e resignação. Um dia cansou, e veio o segundo infarto. Foi em 15 de outubro de 1964. É sobre ele mesmo que escreveu a tão famosa frase: "Com vocês, por mais incrível que pareça, Antônio Maria, brasileiro, cansado, 43 anos, cardisplicente (isto é: desdenha o próprio coração). Profissão: esperança."


Carô Murgel

Valsa de Uma Cidade
(Ismael Netto e Antônio Maria)


Vento do mar e o meu rosto no sol a queimar, queimar
Calçada cheia de gente a passar e a me ver passar
Rio de Janeiro, gosto de você
Gosto de quem gosta
Deste céu, deste mar, desta gente feliz
Bem que eu quis escrever um poema de amor
E o amor estava em tudo o que vi
Em tudo quanto eu amei
E no poema que eu fiz
Tinha alguém mais feliz que eu
O meu amor
Que não me quis

Alguns dizem que ele morreu de amor. Pode ser. Porque além de compositor, cronista, jornalista, Antônio Maria era um grande sedutor. Mulato, gordo, tratou de desenvolver habilidosa malícia com as palavras – "preciso de duas horas de papo para que as mulheres se esqueçam da minha cara". E foi assim que encantou, no Rio glamouroso dos anos 50, um elenco admirável de belas mulheres, como Danuza Leão – que deixou o marido Samuel Wainer, dono da Última Hora, para ficar com Maria, então cronista daquele jornal.
Um dos melhores papos da cidade, colega de copo de grandes músicos brasileiros, como Dorival Caymmi e Vinícius de Moraes, Antônio Maria atravessava as noites de Copacabana em boates famosas como Vogue e Sacha´s, onde circulavam políticos, playboys e estrelas do cinema internacional. Brigão e boêmio, vivia se metendo em confusões e delas saía sempre docemente. Depois de prometer, com Vinícius, nunca fazer nenhum exercício físico que não fosse absolutamente necessário – era o primeiro a se dizer cardisplicente – morreu do coração numa calçada na madrugada de Copacabana, meses depois da separação de Danuza Leão, com quem viveu quase três anos.

Livro Um homem chamado Maria, de Joaquim Ferreira dos Santos

Um comentário:

spersivo disse...

Luiz,
Gostei da Vista Chin, da Vodkca (tou precisando passar o tempo de "abstemice" para dar uma experimentada numa caipi) e mais ainda do Antônio Maria que tem nesta música um dos seus pontos altos. É música de gênio mesmo. E sua simplicidade enganosa faz dela um hino ao Rio (que saudade!). S.