14 de outubro de 2005

História de 35 anos

Em minha rotineira passagem por São Paulo, ontem, fui entrevistado por um estudante de jornalismo que fará uma monografia sobre a substituição de João Saldanha (1917-1990) por Zagallo, como técnico para a Copa disputada no México, em 1970. Ele queria saber se houve razões políticas para a troca de um pelo outro e é claro que confirmei. João Saldanha (foto) sempre foi um comunista declarado. Mas expliquei ao rapaz que, em minha opinião, essa não foi a razão principal. E fundamentei minha resposta numa conversa que tive, por acaso, com o presidente da CBD, João Havelange, no Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, depois do Mundial do México. Nós nos encontramos por acaso e Havelange não me conhecia, até porque jamais cobri jornalisticamente a CBD. Falei com ele como simples torcedor. E Havelange me disse algumas coisas que soaram importantes naquele momento.
Ele me disse, por exemplo, que Saldanha estava armando o time num esquema ultrapassado (4-2-4), com Gérson e Clodoaldo no meio e dois pontas abertos, Jairzinho e Edu. E mais: afirmou que, daquele jeito, o Brasil não daria nem para a saída no México. E foi adiante: revelou que Saldanha estava descontrolado, tendo afirmado na televisão que Pelé estaria cego e, depois, invadiu a concentração do Flamengo, em São Conrado, querendo dar um tiro em Yustrich.
Hoje, com 35 anos de distância, acho que houve razões políticas, claro, com os militares no poder. Mas é insofismável que Saldanha acabou cavando sua própria saída com um esquema arcaico e com atos desatinados, como tentar balear Yustrich e levantar a hipótese de que Pelé não mais estaria enxergando. Quando Zagallo entrou, a primeira providência que tomou foi montar um miolo com Clodoaldo, Gérson e Rivelino e deixar apenas três homens na frente: Jairzinho, Tostão e Pelé. E ganhou, assim, a Jules Rimet.
Coluna do Botafoguense Roberto Porto no Jornal dos Sports

Nenhum comentário: