8 de outubro de 2005

A Lenda, Procissão e Devoção


Lenda - No Pará a própria devoção à Virgem é envolvida em lenda. Plácido, o precursor do culto, teria encontrado a pequena imagem em madeira de Nossa Senhora de Nazaré às margem do Igarapé Murutucu, que corria pela atual travessa 14 de Março onde hoje ficam os fundos da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré.
Imaginando que algum devoto da cidade de Vigia havia esquecido a imagem ali, levou-a para casa. No dia seguinte não a encontrou. Ela havia retornado ao igarapé. Nova tentativa, novo retorno da imagem ao nicho que havia escolhido. A imagem então teria sido levada para a capela do Palácio do Governo da Província, onde ficou guardada por escolta. De manhã, não havia nada na capela, a imagem havia retornado ao igarapé. Obedecendo os desejos da Virgem, à beira do igarapé foi construída uma ermida, que deu início à romaria e à devoção do povo paraense à Virgem de Nazaré.
Procissão - A primeira procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré saiu na tarde do dia 8 de setembro de 1793. Na noite anterior, a imagem da Santa havia sido transferida de sua ermida na Estrada do Utinga para o Palácio do Governo. Tempos mais tarde, a procissão passou a sair no segundo domingo do mês de outubro.
A primeira procissão foi acompanhada por toda a tropa aquartelada na cidade, os cavalheiros montados em seus melhores cavalos, as damas carregadas em seges, o povo a pé em torno do carro que transportava a Santa. A imagem ia no colo do padre capelão e o próprio governador da Província, Dom Francisco de Souza Coutinho, acompanhava o cortejo trajado com uniforme de gala. Dom Francisco Coutinho, que havia organizado a homenagem à Santa, estruturou também aquela que iria ser a maior manifestação religiosa do Pará e uma das mais impressionantes demonstrações de fé religiosa dos católicos no mundo.
Com o passar dos anos, a procissão sofreu algumas modificações, como a inclusão do Carro dos Milagres, que lembrava a salvação do fidalgo português Dom Fuas Roupinho, o barco que lembrava a salvação dos náufragos do brigue São João Batista, a corda que substituiu a junta de bois que puxava o carro da Santa, e o carro dos fogos, que com muito barulho precedia o cortejo religioso. Já neste século, o poeta maranhense Euclides Farias compôs o hino "Vós Sois o Lírio Mimoso", que se consagraria como o Hino do Círio, e hoje identifica a procissão sempre que é cantado.
O primeiro Círio mobilizou gente de toda a redondeza de Belém, principalmente em função da feira que o governador determinou que fosse instalada no terreno que circulava a ermida, para a venda de produtos regionais. A cada ano é maior o movimento de romeiros. Hoje calcula-se em mais de um milhão o número de pessoas que saem às ruas para celebrar a Virgem de Nazaré.
Devoção - O culto à Virgem de Nazaré entrou na cultura portuguesa desde os primórdios do cristianismo. Foi fortalecido pelo fidalgo português Fuas Roupinho que afirmou ter sido salvo da morte ao invocar o auxílio da santa. A devoção a Nossa Senhora de Nazaré veio com os primeiros religiosos jesuítas ao Brasil e no Pará seu culto disseminou-se a partir da cidade de Vigia. Em Belém foi fortalecido graças à devoção de Plácido.
As celebrações religiosas hoje começam em setembro, com a celebração da Missa do Mandato em que os católicos são mandados proclamar a glória da Mãe de Jesus. Até o dia do Círio, réplicas das imagens percorrem as casas, onde são feitas orações
comunitárias e acontecem novenas para Nossa Senhora de Nazaré. Nazaré é nome de gente, de rua, de bairro, de escola, de colégio, de produtos das mais variadas espécies, de lojas, farmácias, hospitais. É essa ligação tão forte com a Santa que faz do Círio de Nazaré um dos mais impressionantes espetáculos de massa do mundo católico. Mesmo quem não não professa a mesma religião sente a energia mística que toma conta das ruas por onde passa o Círio.

Um comentário:

Anônimo disse...

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